quinta-feira, 19 de setembro de 2013

SERMÃO.... BLÁ, BLÁ, BLÁ......

Minhas conversas e pregações não foram com palavras sedutoras da sabedoria humana, desprovidas da demonstração do poder [de Deus] e do Espírito. Que sua fé não repouse na sabedoria dos homens, mas no poder de Deus.
Paulo de Tarso

De onde vieram os Sermões Cristãos?

O mais antigo registro cristão relacionado à pregação de sermões refere-se ao final do século II. Clemente de Alexandria (150-215) lamentava o fato dos sermões exercerem pouca influência nos cristãos.  Isto sugere uma questão interessante.  

Se os cristãos do século I não se destacavam por seus sermões, de onde os cristãos pós-apostólicos adquiriram o costume de proferir sermões?

 A resposta é contundente: O sermão cristão foi adotado diretamente da fonte pagã da cultura grega! Para compreender o nascedouro do sermão, temos que voltar ao século V a.C. e analisar um grupo de mestres peregrinos chamados sofistas. Atribui-se aos sofistas a invenção da retórica (a arte de falar persuasivamente). Eles recrutavam discípulos e exigiam pagamento dos interessados em ouvir seus discursos.  Os sofistas eram polemistas experientes (a arte de debater). Eles eram mestres no uso de apelos
emocionais, aparência física e linguagem, para “vender” seus argumentos Engendrou uma classe de homens que chegaram a ser mestres na arte de falar, “cultivando o estilo pelo estilo”. As verdades que eles pregavam eram verdades abstratas e não verdades que eram postas em prática em suas próprias vidas. Eles eram peritos em imitar a forma no lugar da substância. Os sofistas se tornaram conhecidos pelas roupas especiais que usavam. Alguns tinham uma residência fixa onde proferiam seus sermões regularmente à mesma audiência. Outros viajavam para proferir seus polidos discursos.  Os sofistas foram os homens mais distintos de seu tempo. Tanto que eles viviam por conta própria. Outros tiveram estátuas públicas erigidas em sua homenagem. (Isto não lembra muitos de nossos modernos pregadores?).
Quase um século mais tarde, o filósofo grego Aristóteles (384-322 a.C.) fez uma modificação na retórica ao agregar três pontos à mensagem. “O todo”, disse Aristóteles, “necessita um princípio, um meio e um fim”.Com o tempo, os oradores gregos implementaram o princípio dos três pontos de Aristóteles em seus discursos.  Os gregos e romanos antigos viram a retórica como uma das mais elevadas formas de arte. Conseqüentemente, os oradores do Império Romano foram honrados com o mesmo grau de encanto com que os estadunidenses homenageiam astros de cinema e atletas profissionais. Eles foram os astros mais brilhantes de seu tempo.
Os oradores conseguiam deixar uma multidão frenética simplesmente por sua poderosa destreza retórica. Os mestres da retórica, a fachada científica daquele tempo, eram o orgulho de cada cidade importante. Não demorou muito para que os romanos aprendessem dos gregos e se tornassem adictos do sermão pagão — como ocorre com muitos cristãos modernos adictos do sermão “cristão”.

A Chegada de uma Corrente Contaminada

Como é que o sermão grego foi parar dentro da igreja cristã? Por volta do século III, foi criado um vácuo quando o ministério mútuo do Corpo de Cristo se desvaneceu. Durante este tempo, o trabalhador itinerante que falava de uma forma espontânea deixou as páginas da história da igreja.  Para substituí-lo, começou a surgir uma casta clerical. As reuniões abertas começaram a desaparecer, e as reuniões da igreja passaram a ser mais e mais litúrgicas.
Durante o século III, a distinção entre o clero e o leigo se disseminou rapidamente. Uma estrutura hierárquica começou a arraigar-se, e surgiu a idéia do “especialista em religião”.  Em virtude destas mudanças, o cristão funcional teve problemas para ajustar-se a esta estrutura eclesiástica tão diferente do que era antes. Não havia nenhum lugar para exercer seus dons. Pelo século IV, a igreja tornou-se completamente institucionalizada e o funcionamento do povo de Deus congelou.
Assim, a idéia pagã de um orador profissional treinado para proferir discursos ou sermões mediante pagamento passou diretamente ao sangue do cristianismo. Note que o conceito de “mestre especialista assalariado” não veio do Judaísmo. Veio da Grécia. Era costume dos rabinos judaicos dedicar-se a um trabalho ou profissão para não ter que cobrar pelos seus ensinamentos. Estes ex-oradores pagãos (agora cristãos) começaram a utilizar integralmente suas destrezas oratórias para fins cristãos. Eles se sentiam em seu cargo oficial  e expondo o sagrado texto bíblico, como um sofista ao proferir uma exegese do texto quase sagrado de Homero...”  Se você comparar um sermão pagão do século III com um proferido pelos pais da igreja, você encontrará a estrutura e a fraseologia de ambos bem similares. Então, um novo estilo de comunicação passou a tomar forma na igreja cristã, um estilo marcado por uma polida retórica, uma gramática sofisticada, uma eloqüência descritiva, e um monólogo. Era um estilo desenhado para entreter e chamar a atenção sobre a destreza oratória do orador. Era a retórica greco-romana.
Já no século III, os cristãos passaram a descrever seus sermões como homilias, o mesmo termo usado pelos oradores gregos ao fazerem seus discursos.  Hoje, os seminaristas fazem um curso chamado homilética para aprender a pregar. A homilética é considerada uma “ciência que aplica as regras da retórica, tal qual na Grécia e Roma, onde teve origem”. Em outras palavras, nem a homilia (sermões) nem a homilética (a arte de pregar o sermão) tem origem cristã. Foram roubadas dos pagãos. Uma corrente contaminada se misturou com a fé cristã e envenenou suas águas. Essa corrente flui tão fortemente hoje como no século IV.

Como a Prédica do Sermão degrada a Igreja.

Embora venerado por cinco séculos, o sermão convencional tem contribuído das mais variadas formas para a degradação da igreja.

ü  Primeiramente, o sermão faz com que o pregador seja uma virtuose artística do culto eclesiástico. Como resultado, a participação da congregação fica obstaculizada (na melhor hipótese) e excluída (na pior hipótese). O sermão transforma a igreja em um auditório. A congregação degenera em um grupo de espectadores apagados presenciando um evento. Não há espaço para interromper ou questionar o pregador enquanto ele profere seu discurso. O sermão congela e trava o funcionamento do Corpo de Cristo. O sermão promove um sacerdócio dócil por permitir que os homens do púlpito com suas mãos agitadas dominem a reunião da igreja semana após semana.

ü  Em segundo lugar, o sermão estanca o crescimento espiritual. Pelo fato de ser uma estrada de uma só mão, o sermão embota a curiosidade e produz passividade. O sermão debilita a igreja no que toca ao seu funcionamento. O sermão sufoca o mútuo ministério. Abafa a participação aberta. Estanca o crescimento espiritual do povo de Deus. Como cristãos, necessitamos funcionar, exercitar, caminhar para poder crescer.  Podemos crescer sentados como uma estátua de sal ouvindo um homem pregar de lá de cima do púlpito semana após semana? De fato, uma das metas do estilo da pregação e ensino do NT é incentivar você a funcionar.  Isto encoraja você a falar na reunião da igreja. O sermão convencional obstaculiza este processo.

ü  Em terceiro lugar, o sermão conserva a mentalidade do clero antibíblico. Cria uma excessiva e patológica dependência do clero. O sermão faz do pregador um especialista em religião, o único quetem algo de valor a compartilhar. Trata todos os demais como cristãos de segunda categoria, como esquentadores de banco (Embora isso não expresse o geral, é a realidade). Como pode o pastor aprender dos demais membros do Corpo de Cristo quando eles estão mudos? Como pode a igreja aprender do pastor quando seus membros não podem fazer perguntas durante sua prédica?  Como podem os irmãos e irmãs aprenderem uns dos outros se eles estão amordaçados e não podem falar nas reuniões? O sermão torna a “igreja” distante e impessoal.  O sermão priva o pastor de receber o sustento espiritual da igreja. O sermão priva a igreja de receber nutriente espiritual mútuo. Por estas razões, o sermão é uma das maiores barricadas que impedem o sacerdócio funcional!

ü  Em quarto lugar, em vez de equipar os santos, o sermão remove suas habilidades. Não importa quão forte e extensamente o ministro fale acerca de “equipar os santos para a obra do ministério”, a verdade é que a pregação de sermões não equipa ninguém para o serviço espiritual. Na realidade, o povo de Deus acostumou-se tanto a ouvir sermões que os pastores acostumaram-se a pregá-los. (Sei que alguns cristãos não gostam de pregações a cada semana, mas parece que a maioria as desfruta).  Em contraste com a pregação, o ensinamento do estilo neotestamentário equipa a igreja para que funcione sem a presença do clero.

ü  Em quinto lugar, o moderno sermão é totalmente contraproducente. A maioria dos pregadores é especialista em coisas que nunca experimentou. Por ser abstrato e teórico, piedoso e inspirador, demandante e obrigatório, entretido e ruidoso, o sermão não coloca os ouvintes em uma experiência direta e prática daquilo que é pregado. Assim, pois, o sermão típico é uma lição de natação em terra seca! Falta todo valor prático. Prega-se muito no ar, mas ninguém aterriza. A maioria das pregações é dirigida ao lóbulo frontal. A moderna pregação do púlpito falha em ir além da mera disseminação de informações sobre equipar crentes a experimentar e utilizar aquilo que escutam. O sermão reflete seu verdadeiro pai — a retórica greco-romana. A retórica greco-romana estava mergulhada em abstrações.  Esta “envolvia formulas desenhadas para entreter e revelar o artista orador em vez de instruir ou desenvolver talentos em outras pessoas”. O moderno sermão polido pode acalentar o coração, inspirar a vontade e estimular a mente. Mas raramente, ou nunca, indica como se retirar da conferencia! De qualquer forma, o sermão não promove crescimento espiritual. Mais que isso, ele agrava o empobrecimento da igreja. Os sermões atuam como um mero e momentâneo estimulante. Seus efeitos são extremamente efêmeros. Sejamos honestos. Há multidões de cristãos sendo “sermonizados” há décadas, todavia, continuam na condição de bebês em Cristo.  Nós cristãos não somos transformados por escutar sermões. Somos transformados por um encontro regular com o Senhor Jesus Cristo. Os que ministram, portanto, são chamados a assegurar que seu ministério seja intensamente prático. São chamados não apenas para revelar a Cristo, mas para mostrar a seus ouvintes como experimentá-lo, conhecê-lo, segui-lo e servi-lo.´

Se um pregador não consegue levar seus ouvintes àquela experiência viva e espiritual que ministra, os resultados da mensagem serão efêmeros. Portanto, a igreja necessita menos gente no púlpito e mais facilitador espiritual. Há uma necessidade urgente de pessoas proclamando Cristo e sabendo como levar o povo de Deus a experimentar esse mesmo Cristo proclamado. Necessitamos restaurar a prática do século I da exortação mútua e do ministério mútuo. No NT, a transformação espiritual depende destas duas coisas. Naturalmente, o dom do ensino está presente na igreja. Mas o ensino deve fluir de todos os crentes tanto quanto flui dos que
 possuem dons especiais para ensinar. Nós deixamos a Bíblia de lado quando  permitimos que o ensino tome a forma de um sermão convencional e o relegamos a uma classe de oradores profissionais.

Concluindo

O sermão do púlpito não é o equivalente à pregação encontrada nas Escrituras.  A prática do sermão não é encontrada no Judaísmo do AT. Não é encontrada no ministério de Jesus, nem na vida da Igreja Primitiva.  Além disso, Paulo disse aos gregos convertidos que ele próprio recusou ser influenciado pelas formas de comunicação utilizadas pelos pagãos de seu tempo.  O sermão é uma “vaca sagrada” concebida no ventre da retórica grega. Nasceu na comunidade cristã quando os ex-pagãos (agora cristãos) começaram a levar seus estilos de oratória para a igreja. No século III era comum o líder cristão proferir sermões. No século IV virou norma.  O cristianismo absorveu sua cultura circundante.  Quando o pastor sobe ao púlpito exibindo sua veste clerical e proferindo seu sermão sagrado, ele exerce o papel do antigo orador grego. Todavia, apesar do fato do sermão não possuir nenhum mérito de fragmento bíblico que justifique sua existência, este continua sendo admirado e isento de crítica nos olhos da maioria dos cristãos modernos. O sermão entrincheirou-se de tal forma na mente cristã que a maioria dos pastores e “leigos” que crêem na Bíblia falham em ver que por pura tradição afirmam e perpetuam uma prática antibíblica. O sermão chegou a ser permanentemente embutido em uma estrutura organizacional complicada, bem longe da vida eclesiástica do século I.  Diante de tudo que descobrimos sobre o sermão moderno, considere estas questões penetrantes: Como pode um homem pregar um sermão sobre “ser fiel à Palavra de Deus” se a prática do sermão não é bíblica? Como pode um cristão sentar-se passivamente em um banco de igreja e passivamente afirmar o sacerdócio de todos os crentes desse mesmo banco? Para personalizar um pouco mais. Como é que você, querido cristão, pode pretender defender a doutrina protestante de base puramente bíblica ao mesmo tempo em que apóia o sermão do púlpito? Como disse eloqüentemente certo autor, “o sermão é inquestionável em termos práticos. Passou a ser um fim em si mesmo, sagrado, subproduto de uma reverência distorcida pela tradição dos anciãos...”. Parece estranhamente inconsistente que aqueles que estão mais dispostos a defender a Bíblia como a Palavra de Deus, “supremo guia em todos assuntos de fé e prática” se encontrem entre os primeiros a rechaçar os métodos bíblicos em favor das “cisternas quebradas” de seus pais (Jeremias 2:13). Em outras palavras, não há espaço no curral da igreja para vacas sagradas como o sermão!





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Minhas Postagens

... A BÍBLIA É O FENÔMENO EXPLICÁVEL APENAS DE UM MODO – ELA É A PALAVRA DE DEUS...

... A BÍBLIA É O FENÔMENO EXPLICÁVEL APENAS DE UM MODO – ELA É A PALAVRA DE DEUS...
O fato de que Deus nos deu a Bíblia é evidencia e exemplo de seu amor por nos, nos ensinando a manter um relacionamento correto com Deus, mas como podemos ter evidencias de que a Bíblia é mesmo a palavra infalível de Deus e não simplesmente um bom livro? O que é único na Bíblia que a separa dos demais livros escritos até hoje? A Bíblia é a verdadeira Palavra de Deus, divinamente inspirada, e totalmente suficiente para todas as questões de fé e prática. Não pode haver duvidas sobre a veracidade bíblica. Ela não é um livro que um homem escreveria se pudesse, ou que poderia escrever se quisesse.

QUE TEMPO CURTO!

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Se for ensinar, haja dedicação ao ensino (Rm 12.7b). Quase todos nós já passamos pela experiência de ver um professor da Escola Dominical ser surpreendido pelo soar do sinal anunciando o término da aula. Muitos são os professores e alunos que vivem se queixando do pouco tempo reservado para o estudo em classe. Alguns professores chegam dizer, frustrados, que a aula terminou exatamente quando começava a tratar da melhor parte do seu conteúdo. A questão não é falta de tempo e sim de planejamento. Quando não há planejamento da aula, não importa o tempo a ela reservado, tudo sairá atabalhoadamente dando a impressão de que está faltando algo. Quando existe planejamento, mesmo que o tempo seja curto, haverá produtividade e satisfação na aula dada. O problema não é o tempo, reafirmo, mas o planejamento. O planejamento de uma aula para a Escola Dominical deve levar em consideração vários fatores.

Alguém precisa fazer algo!

Alguém precisa fazer algo!
JANELA 10/40 é uma faixa da terra que se estende do Oeste da África, passa pelo Oriente Médio e vai até a Ásia. A partir da linha do equador, subindo forma um retângulo entre os graus 10 e 40. A esse retângulo denomina-se JANELA 10/40.Calcula-se que até hoje menos da metade da população mundial com as suas etnias e línguas tenham sido confrontadas com o evangelho. A outra parte, com sua maioria absoluta na Janela 10/40, representa uma grande multidão de cerca de 3,2 bilhões de pessoas que ainda são objetos dos empreendimentos missionários do povo de Deus.

DICAS PARA UMA LEITURA PROVEITOSA.

DICAS PARA UMA LEITURA PROVEITOSA.
. Então, aí vai dez dicas para ler sem esquecer, a primeira vista, muitas podem parecer óbvias. Mas não as subestime. Não é sempre que a gente enxerga o óbvio. 1- Não leia cansado nem ansioso. Se for o caso, faça exercícios de respiração antes de começar a leitura. O estresse é o inimigo número um da concentração e, em consequência, da memorização. 2- Tenha vontade de aprender o que será lido. 3- Se não tiver vontade de antemão, procure criar interesse pelo assunto. A curiosidade é a mola da humanidade. 4- Sublinhe as palavras mais importantes e as frases que expressem melhor a idéia central. 5- Analise as informações e crie relação entre elas, seja nas linhas de cima ou com tudo o que você aprendeu na vida, trazendo-as para o seu mundo. A associação de idéias é fundamental. 6- Leve sempre em conta coisas como: 1- Grau de dificuldade do texto (ler um gibi não é o mesmo que ler sobre filosofia). 2- Objetivo (Só querer agradar alguém, e mais nada, não é o melhor caminho para gravar uma informação. 3- Necessidade (querer ler é bem diferente de depender disso). 7- Faça perguntas ao texto e busque respostas nele. 8- Repita sempre, desde ler de novo até contar para laguém o que você leu. 9- Faça uma síntese mental. Organizar bem as idéias já é meio caminho andado. 10- A memória prefere imagens a palavras ou sons. Por isso, tente criar uma história com aquilo que está lendo, com cenas coloridas e movimentadas. Sammy Pulver comentou muito bem a sensação de quem descobriu e está experimentando os prazeres de uma boa leitura: Na vida nos ensinam a amar, a sorrir, a andar, a lutar, mas quando abrimos um livro, descobrimos que também podemos voar.