Jesus falou de sinais e maravilhas no que diz respeito
à sua segunda vinda. Mas ele disse que "esta geração" não passaria,
sem que tudo isso acontecesse. Isso quis dizer que esses eventos aconteceriam
durante a vida dos que o ouviam?
Disse Jesus; "Eu lhes asseguro que não
passará esta geração [genea] até que todas estas coisas aconteçam".
Que significa "estas
coisas"?
Quer dizer o
surgimento de falsos mestres e profetas, a perseguição e o martírio de crentes
e todos os horrores da Grande Tribulação (v. 9-22). Além disso, haverá falsos
Cristos, milagres enganadores e fenômenos estranhos nos céus (v. 23-29). Então,
finalmente, ver-se-á o "sinal do Filho do homem" (v. 30) nos céus; e
o mundo todo testemunhará seu retorno à Terra com poder e grande glória, quando
o Senhor enviará seus anjos a fim de reunir todos os "eleitos" de
qualquer parte da Terra.
É óbvio que essas
cenas apocalípticas e acontecimentos que sacudiriam a Terra não ocorreram na
época da geração de Jesus, isto é, das pessoas que lhe ouviram o sermão no
monte das Oliveiras. Portanto, Jesus não poderia estar referindo-se a seu
auditório imediato, ao fazer essa predição a respeito dessa genea. Que
quis dizer então o Senhor com essa profecia?
Há duas explicações possíveis.
Uma é que a
palavra genea ("geração")
foi usada como sinônimo de genos ("raça",
"nação", "povo"). Portanto, essa seria uma predição de que
os judeus não deixariam de existir, antes do segundo advento. Se outros povos
desaparecessem antes da vinda do Senhor — e a maioria das nações contemporâneas
de Jesus de fato já sucumbiram — a raça judaica, ainda que perseguida e expulsa
de diversos países, sobreviveria até a volta do Senhor. Nenhuma outra nação
conseguiu superar as dispersões, perseguições e condições insólitas que os
judeus têm suportado. No entanto, eles vivem até hoje e têm reestabelecido sua
independência no Estado de Israel. Embora esse significado para a palavra grega
genea
não seja comum, já se encontrava em Homero e Heródoto, na
antigüidade e, mais recentemente, em Plutarco (cf. H. G. Liddell e R. Scott, A Greek-English
Lexicon, nona edição [Oxford-Clarendon, 1940], p. 342). E, Por haver muitas
promessas a Israel, inclusive a da herança eterna da terra da Palestina (Gn 12;
14-15; 17) e do reino Davídico (2 Sm 7), Jesus poderia estar se referindo à
preservação da nação de Israel por Deus, de forma a cumprir com as promessas
feitas a Israel.De fato, Paulo fala de um futuro da nação de Israel, quando
eles serão restabelecidos nas promessas do pacto de Deus com eles (Rm
11:11-26). A resposta de Jesus à última pergunta de seus discípulos levava em
conta que haveria um futuro reino para Israel, quando eles perguntaram:
"Senhor, será este o tempo em que restaures o reino a Israel?" Em vez
de repreendê-los por falta de compreensão, Jesus respondeu: "Não vos
compete conhecer tempos ou épocas que o Pai reservou pela sua exclusiva
autoridade" (At 1:6-7).
A outra
possibilidade é que genea signifique
"geração" no sentido usual da palavra, mas que se refira aos
observadores que testemunharão os sinais e as perseguições que iniciarão a
Grande Tribulação.Em outras palavras, a geração que estiver viva quando essas
coisas começarem a acontecer (o abominável da desolação [v. 15], a grande tributação,
tal como nunca houve antes [v. 21], o sinal do Filho do Homem no céu [v.
30] etc.) permanecerá viva até quando esses juízos se completarem. Portanto, já
que comumente se crê que, no fim dos tempos, a tribulação terá a duração de
sete anos (Dn 9:27; cf. Ap 11:2), Jesus estaria dizendo que "esta
geração" que estiver vivendo a tribulação ainda estará viva no seu final.
Muitas dessas pessoas viverão o suficiente para ver o Senhor Jesus voltar à
Terra, como Rei dos reis, com todo poder e glória. Essa interpretação tem o
mérito de preservar o sentido mais comum, amplamente usado, da palavra
"geração". Sofre, contudo, a desvantagem de predizer algo que já
estaria acontecendo. Quer a Grande Tribulação dure sete anos, ou apenas três e
meio, não seria tão inusitado para a maioria das pessoas sobreviver a tal
período. Sete anos não é um tempo de vida muito longo para o ser humano, ainda
que enfrente grande perseguição.
ü Seria
bom acrescentar que se o sermão do monte das Oliveiras houvesse sido pregado
originariamente em aramaico (como provavelmente foi), não poderíamos ter
certeza de que o sentido dessa predição estivesse girando em torno da palavra
grega usada para traduzir a que temos em português, geração. Afinal, genea
e genos são termos intimamente relacionados entre si, saídos da mesma
raiz. A palavra aramaica que o Senhor Jesus teria usado (a Peshita usa sharbetā,
que tanto pode significar "geração" como "raça") é
suscetível de uma ou outra tradução, pelo que poderia significar a
"raça" judaica, em vez de os contemporâneos de Cristo.
Sob qualquer
hipótese, não há razão alguma para se considerar que Jesus tivesse feito a
afirmação, obviamente falsa, de que o mundo terminaria dentro do período de
vida dos seus contemporâneos.