A Bíblia, então, é essencialmente um
livro missionário, visto que sua inspiração deriva de um Deus missionário. O
termo missionário vem do latim, que, por sua vez, traduz a palavra grega
apóstolos, a qual significa o enviado. Jesus usou este termo para destacar o
relacionamento entre Deus Pai, Deus Filho e seus discípulos, quando disse:
"Assim como o Pai me enviou, eu também vos envio" (Jo 20.21). O
próprio caráter de nosso Senhor é missionário. Portanto, não é de surpreender
que sua Palavra também manifeste esta característica. É à luz desta revelação
de Deus que a igreja enfrenta o maior desafio do cristianismo — a tarefa
missionária inacabada, cujo âmago é a evangelização.
É na
bíblia que encontramos os registros das primeiras missões. Além disso,
mostra-nos como implantar igrejas locais, estratégias de evangelização, as possíveis
atividades de um missionário no campo, o papel da igreja missionária e os
problemas enfrentados no campo missionário. As escrituras nos apresenta o fundamento , o norte , e as estratégias missionárias.
Vejamos
um pouco de como missões esta presente na bíblia:
Que
Gênesis l. l é, obviamente, a base necessária da grande comissão dada nos
evangelhos. De fato, ele tinha razão. O versículo tão conhecido diz: "No princípio criou Deus os céus e a terra".
Destaca-se
aí a amplitude da preocupação de Deus e, por conseguinte, o palco de missões.
Nada menos que o mundo inteiro pertence à esfera do interesse de Deus. Antes de
ser o Deus de Israel, ele é o Deus do universo. Antes de ser o Deus da igreja,
é o Senhor de tudo. (Mesmo o título usado no Antigo Testamento, Adonai, tem o sentido de "Senhor de
tudo" ou "Senhor absoluto", em vez de Adonî, forma esta que significa "meu Senhor",
representando, por exemplo, um deus particular de um indivíduo ou de uma
nação.)
"Pois Deus amou o
mundo de tal maneira..." (Jo 3.16). O escopo de Deus é
o mundo criado. Nele, a mira de Deus está fixada. Se o alvo da mira de Deus é o
universo, certamente, a partir do NT, a espingarda carregada é a igreja, assim
como foi Israel no AT.
Portanto, quando Jesus disse a seus
discípulos que fossem a todas as nações, a toda criatura e a toda parte do
mundo, ele se baseava no fato de que o mundo todo pertence, por direito, a
Deus, por ser sua criação.
A CRIAÇÃO DO SER HUMANO
"Criou
Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os
criou. E Deus os abençoou, e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei
a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, e
sobre todo animal que rasteja pela terra" (Gn 1.27-28).
Confirmamos que o objeto do domínio
dado à humanidade é o mundo inteiro. Tanto os céus quanto a terra mais uma vez
são mencionados na passagem. Entretanto, a esta altura, já há outra dimensão
relacionada às missões, isto é, o papel do homem. Sua tarefa será dominar e
sujeitar o mundo que Deus criou. Assim, ele recebe uma certa realeza delegada
por Deus. Assim como Deus domina, governa e reina como Rei, o homem, sendo seu
embaixador e enviado, também deve reinar como um rei sobre a criação de Deus
Somente uma restauração, uma recriação e um renascimento dos homens e das
mulheres, por meio da redenção conseguida na cruz do Calvário, podem
recapacitar o homem a participar do reino de Deus e a anunciar a todas as
nações a chegada deste glorioso reino.
A RESPONSABILIDADE
MISSIONÁRIA DE ISRAEL
Entretanto, pode-se pensar que, se
Deus tem, desde o início, uma preocupação universal, por que o Antigo
Testamento dá tanta ênfase somente a uma nação — Israel?
Vejamos os capítulos 3-12 de
Gênesis. A partir de Adão, o relacionamento entre Deus e o homem piorou. Neste
trecho das Escrituras lemos a respeito de queda e rebelião. Por fim, Deus diz: "Chega! Vou acabar com toda a raça humana e começar
tudo de novo com uma só família". Deus efetivamente fez isto,
destruindo a humanidade toda com exceção da família de Noé.
Ora, são fascinantes as palavras de
Deus a Noé e seus filhos, depois do dilúvio: "Sede
fecundos, multiplicai-vos e enchei a terra" (Gn 9.1). O mandamento
de Deus para Adão continua o mesmo para Noé e sua família. Eles deveriam ser os
novos embaixadores-missionários de Deus por todo o mundo. Somente um dos filhos
de Noé, Sem, seria o antecedente dos povos semitas, como Israel, por exemplo.
Todos os filhos, porém, representavam toda a humanidade de novo.
Infelizmente a história continuou
inalterada. Mais uma vez houve rebelião e tudo piorou e se agravou até a
construção da torre de Babel:
"Ora
em toda a terra havia apenas uma linguagem e uma só maneira de falar. Sucedeu
que, partindo eles do oriente, deram com uma planície na terra de Sinear; e
habitaram ali. E disseram uns aos outros: Vinde, façamos tijolos, e
queimemo-los bem. Os tijolos serviram-lhes de pedra, e o betume, de argamassa.
Disseram: Vinde, edifiquemos para nós uma cidade, e uma torre cujo topo chegue
até aos céus e tornemos célebre o nosso nome, para que não sejamos espalhados
por toda a terra"
(Gn 11.1-4).
A torre de Babel foi construída para
ser um símbolo de unidade, um lugar onde as pessoas pudessem se reunir.
Buscava-se segurança com essa união, tendo em vista os perigos desconhecidos da
terra despovoada. Eles disseram: "Não queremos nos espalhar por toda a
terra. Não vamos obedecer ao primeiro mandamento de Deus e espalhar seu domínio
por todo o mundo".
Mas Deus os forçou a isto,
confundindo-lhes as línguas, exigindo, assim, a separação entre povos e nações.
Até este ponto do relato de Gênesis,
vemos como Deus quis usar a humanidade, a fim de promover a ordem e seu
domínio. Observamos que o foco manteve-se universal.
A partir do capítulo 12, contudo, e
até o final do Antigo Testamento, a ênfase recai na história não universal, mas
particular do povo de Israel. Esta nação seria o instrumento de Deus para
atingir seu alvo, que continuaria a ser o mundo todo.
NO PERÍODO DOS PATRIARCAS
Quando Deus chamou Abraão,
concentrou-se em um só homem, por meio de quem constituiria uma família e,
depois, uma nação, cuja influência atingiria todos os povos do mundo: "Em ti serão benditas todas as famílias da
terra" (Gn 12.3).
Abraão tornou-se um grande
missionário. Deus o chamou, e ele respondeu com fé. Deixou sua vida anterior e
iniciou sua peregrinação. Foi chamado pai da fé.
Este chamado de Abraão repetiu-se
para seus descendentes: "... a tua descendência possuirá a cidade dos seus
inimigos, nela serão benditas todas as nações da terra" (Gn 22.17-18).
Esta "descendência" refere-se a três entidades. Em primeiro lugar, ao
povo de Israel. A missão de Abraão passou também a seus descendentes, pois o
chamado à missão repetiu-se tanto para Isaque (Gn 26.2-4) quanto para Jacó (Gn
28.13-14) e José (Gn 49.22).
Em segundo lugar, a descendência
refere-se a Jesus. Todas as bênçãos de Deus nos vêm por meio de Jesus Cristo
(Ef 1.3), tanto que Abraão era apenas um tipo de Cristo, apontando para frente,
junto com os profetas e reis, para o Messias, através de quem Deus cumpriu
cabalmente as promessas feitas a seus tipos.
Em terceiro lugar, assim como o
chamado passou para os descendentes de Abraão, também passou para os
"descendentes" de Jesus, aqueles que renascem em Cristo, os
verdadeiros e atuais descendentes de Abraão (Gl 3.29). Os cristãos são chamados
para serem missionários-embaixadores.
NA HISTÓRIA DE ISRAEL
Na história de Israel, a atuação de
Deus para com seu povo visava a um propósito maior — alcançar as nações.
"Porque
o Senhor vosso Deus fez secar as águas do Jordão diante de vós, até que
passásseis, como o Senhor vosso Deus fez ao Mar Vermelho, ao qual secou perante
nós, até que passamos. Para que todos os povos da terra conheçam que a mão do Senhor
é forte: a fim de que temais ao Senhor vosso Deus todos os dias" (Js 4.23-24).
Os milagres de Deus não objetivavam
algo para Israel, mas eram uma forma de conduzir as nações à salvação.
(Observe-se que "temer", para o hebreu, significava a aliança que
tinha quanto à sua fé, assim como, hoje em dia, o termo popularmente usado é
"religião".)
Davi compreendeu este propósito
maior de Deus, quando se confrontou com Golias:
"Davi,
porém, disse ao filisteu: Tu vens contra mim com espada, e com lança, e com
escudo; eu, porém, vou contra ti em nome do Senhor dos Exércitos, o Deus dos
exércitos de Israel, a quem tens afrontado. Hoje mesmo o Senhor te entregará na
minha mão; ferir-te-ei, tirar-te-ei a cabeça, e os cadáveres do arraial dos
filisteus darei hoje mesmo às aves dos céus e às bestas-feras da terra; e toda
a terra saberá que há Deus em Israel"
(l Sm 17.45-46).
Esta consciência missionária de Davi
chegou a marcar significativamente seus salmos:
"Aclamai a Deus, toda a terra... prostra-se toda a terra
perante ti... os seus olhos vigiam as noções... bendizei, ó povos, o nosso
Deus" (66.1, 4, 7, 8).
"E todos os reis se prostrem perante ele; todas as nações o
sirvam... nele sejam abençoados todos os homens, e as nações lhe chamem
bem-aventurado" (72.11, 17).
"Todas as nações que fizeste virão, prostrar-se-ão diante
de ti, senhor, e glorificarão o teu
nome" (86.9).
"Anunciai entre as nações a sua glória, entre todos os
povos as suas maravilhas" (96.3).
"O Senhor fez notória a sua salvação; manifestou a sua
justiça perante os olhos das nações... celebrai com júbilo ao Senhor, todos os
confins da terra" (98.2, 4).
"Louvai ao Senhor vós todos os gentios, louvai-o todos os
povos" (117.1).
Esta visão missionária também foi
evidenciada pelo filho de Davi, Salomão, quando dedicou o templo a Deus,
orando:
"... ouve tu nos céus, lugar da tua habitação, e faze tudo
o que o estrangeiro te pedir, a fim de que todos os povos da terra conheçam o
teu nome, para te temerem como o teu povo Israel, e para saberem que esta casa,
que eu edifiquei, é chamada pelo teu nome" (l Rs 8.43;
ver também Is 56.6-8).
A PERSPECTIVA DE MISSÕES NO MINISTÉRIO DE
JESUS
No Novo Testamento, essa preocupação
universal de Deus intensifica-se a partir do ministério de Jesus. O Evangelho
Segundo Lucas, mais que todos os outros, enfatiza o significado universal da
vinda de Jesus. Dos quatro evangelhos, apenas Mateus e Lucas traçam a
ascendência de Jesus através de sua genealogia. Mateus começa a partir de
Abraão a fim de destacar aos leitores judeus e aos gentios, inquisidores da fé
judaica, que Jesus, sendo filho de Abraão, é o Rei prometido de Israel. Lucas,
entretanto, começa a genealogia de Jesus a partir de Adão, destacando-o como
filho do pai de toda a humanidade. Assim, Jesus identifica-se com o plano mestre
e universal de Deus na história da criação, ou seja, ter domínio sobre todas as
coisas e não somente sobre Israel. Em Lucas vemos Cristo como o missionário de
Deus, enquanto em Mateus ele é visto mais como o Messias prometido de Israel.
Lucas enfatiza o significado do
ministério de Jesus, tanto em termos geográficos quanto em termos sociais e
culturais.
MISSÕES NO MINISTÉRIO DO ESPÍRITO POR MEIO DA
IGREJA
Não podemos subestimar a necessidade
do poder do Espírito Santo na realização da grande comissão. Harry Boer, em seu
livro Pentecost and Missions ("Pentecoste e Missões"), argumenta
bíblica e irrefutavelmente que a vinda do Espírito Santo — a experiência do
Pentecoste — dá vida e sentido à grande comissão, tanto que esta, sem o
Pentecoste, não teria poder algum nem poderia ser cumprida.
O ESPÍRITO SANTO COMO AUTOR E
REALIZADOR DE MISSÕES
A igreja, então, necessita do poder
de Deus para cumprir sua missão, pois "nossa luta não é contra o sangue e
a carne, e, sim, contra os principados e potestades, contra os dominadores
deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões
celestes" (Ef 6.12). Portanto, o pré-requisito para o cumprimento da
tarefa missionária é o poder do Espírito Santo (At 1.8).. Com a vinda do
Espírito, a igreja compreendeu as palavras de Jesus: "Em verdade, em
verdade vos digo que aquele que crê em mim, fará também as obras que eu faço, e
outras maiores fará, porque eu vou para junto do Pai" (Jo 14.12). No
discurso que contém esse versículo, o Espírito Santo é central (Jo 14.16), e os
discípulos devem esperá-lo, tendo já recebido a grande comissão. O Espírito,
portanto, é o autor de missões, pois a obra parte de sua capacitação.
Ele não é apenas o autor, mas também
o realizador de missões. Com sua vinda sobre os primeiros discípulos houve o
sinal sobrenatural de "línguas", que indicava claramente que o
evangelho deveria ser pregado a todas as raças e nações.
O ESPÍRITO COMO PROMOTOR DE MISSÕES
O Espírito Santo está por trás de
todos os acontecimentos em Atos. Ele é quem atuava quando:
· a
igreja se iniciou com 3.000 e depois 5.000 convertidos (2.41, 4.4);
· Pedro
e os outros discípulos testemunharam ousadamente frente à perseguição
(3.11-26);
· os
primeiros seguidores venceram o egoísmo e deram liberalmente à obra do Senhor
(4.32-37);
· morreu
o primeiro mártir, mostrando vitória gloriosa sobre a perseguição e vingança
(6.8-7.60);
· o
evangelho da salvação alcançou o primeiro lar gentio (11.12);
· a
mensagem de perdão espalhou-se pela Etiópia e África (8.27-29);
· as
igrejas na Judéia, Galiléia e Samaria vieram a se estabelecer firmemente
(9.31);
· a
maravilhosa igreja missionária de Antioquia começou a prosperar em preparação
para seu envio de missionários (l 1.22-26);
· o
amor mútuo das primeiras comunidades cristãs manifestou-se através da coleta
incentivada pela profecia de Ágabo (l1.28-29);
· a
igreja de Antioquia lançou seu programa missionário (13.2);
· Paulo
venceu seu primeiro inimigo, Elimas, em Chipre (13.9);
· os
apóstolos alegraram-se na perseguição em Antioquia da Pisídia (13.50-52);
· os
apóstolos reconheceram a obra entre os gentios e pronunciaram liberdade da lei
para os cristãos gentios (15.28);
· Paulo
foi impedido de continuar na Ásia, sendo dirigido à Europa; um marco
missionário significante (16.6-10);
· os
líderes foram escolhidos para tomar conta da igreja local em Éfeso (20.28).
O ESPÍRITO COMO PODER PARA MISSÕES
Há uma diferença entre alguém ser
cheio do Espírito Santo e o Espírito ser derramado sobre as pessoas. O primeiro
caso refere-se mais à qualidade, ao caráter espiritual de alguém e ao poder
para servir. O segundo refere-se mais à introdução decisiva de uma nova era ou
do início de um novo movimento ou expansão.
O Espírito Santo foi derramado
apenas quatro vezes em Atos. Cada uma das conquistas na expansão missionária
foi acompanhada por sinais milagrosos. A primeira vez foi a vinda do Espírito
no Pentecoste (2.1-13); a segunda, quando o evangelho alcançou a Samaria, a
primeira cidade não judia (8.14-17); a terceira, quando Pedro pregou à primeira
família gentia, a de Cornélio, em Cesaréia (10.44-45) e, finalmente, a quarta,
quando Paulo conseguiu demonstrar a diferença entre o evangelho de Jesus e a
pregação de João Batista (l9. l-6). Todas as vezes o próprio Espírito Santo
marcou, milagrosamente, a introdução de uma nova fase na tarefa missionária a
nós confiada.
O ESPÍRITO SANTO COMO ESTRATEGISTA DE
MISSÕES
Em Atos l.8 encontramos uma
estratégia geral que, de fato, corresponde ao desdobramento da expansão
missionária da igreja. Isto é, começa em Jerusalém, o lar dos primeiros
discípulos; penetra a Judéia, lugar árido e difícil para a evangelização,
embora geografïcamente próximo a Jerusalém; encontra o primeiro desafio
cultural em Samaria, em preparação final para os confins da terra. Desta
maneira, aprendemos que a expansão missionária e geográfica é cada vez mais
abrangente, tendo uma penetração cada vez maior.
Em Atos, encontramos também uma
estratégia urbana. As cidades chaves devem ser alcançadas. Felipe foi dirigido
à Samaria, Pedro a Cesaréia e Paulo às cidades chaves do Oriente Próximo e
Europa. Diante da marcante urbanização mundial (população urbana em 1900 = 14%;
40% em 1980 e 50% no ano 2000) e brasileira (31% em 1940; 68% em 1980, e a ONU
prevê que até o ano 2025 entre 80% e 90% da população latino-americana será
urbana!), a tarefa missionária não pode ser ingênua. Na década de 80,
aproximadamente um bilhão de pessoas migraram para os centros metropolitanos
do Terceiro Mundo. Cidades como Bogotá, São Paulo e a Cidade do México têm um
aumento diário de 4.000 a 6.000 habitantes. No Brasil, a migração para os
centros urbanos, especialmente os do litoral, é bem destacada desde o período
colonial.
Outra estratégia envolve pessoas e
classes chaves. Quando Paulo foi a Chipre, tratou com o procônsul do país. Em
Atenas (outro centro metropolitano), tratou com os filósofos, e alguns se
converteram, entre os quais um certo Dionísio (At 17.18, 34). Em Éfeso,
trabalhou entre os estudiosos, na escola de Tirano, durante dois anos.
Resultado? Todos os habitantes da Ásia ouviram a palavra do Senhor, tanto
judeus como gregos (At 19.10). Que relatório! Outro exemplo é o de Felipe, que,
ao falar com o eunuco da Etiópia, dirigia-se a um líder do país, sendo este o
primeiro passo do evangelho naquela nação.
Em Atos, notamos uma preocupação
constante de fundar igrejas em áreas ainda não atingidas. Paulo até fez disso
uma regra pessoal (Rm 15.20). Entretanto, atualmente, a metade da população
mundial está na Ásia, onde, embora apenas 5% professem a fé cristã, somente 5%
da força missionária mundial ministra. Vendo a situação por outro angulo,
teremos 99% da força missionária mundial ministrando entre os 42% da população
mundial, onde já existem igrejas cristãs que podem alcançar os não cristãos. O
outro 1% da força missionária trabalha entre os 58% da população mundial, onde
os não cristãos só podem ser alcançados por meio do ministério transcultural.
Quanto precisamos hoje da conscientização paulina de ministrar onde Cristo
ainda não foi pregado!
Urge um novo chamado a um
despertamento para dependência total do Espírito Santo, sem medo da maneira
como seremos entendidos e vistos. Urge a busca diligente da plenitude do
Espírito de Deus em nossa vida pessoal, igrejas, agências e juntas
missionárias. Então haverá um verdadeiro despertamento missionário!
PAULO E MISSÕES
Ao mesmo tempo, representando o
melhor da liderança, o agente missionário entende seu papel não como superior,
mas como servo. Paulo, em sua missão entre os gentios, considera-se ministro (leitourgos) ou servo (v. 16) que, à
semelhança dos sacerdotes, apresenta uma oferta no altar de Deus. Neste caso,
a oferta é a obediência dos gentios a Deus (v. 18).
O melhor líder possui uma atitude de
servo e entende seu serviço missionário como culto e sacrifício prestados a
Deus.
O OBJETIVO MISSIONÁRIO: A OBEDIÊNCIA
Paulo descreve o objetivo de seu
trabalho missionário com a expressão "conduzir
os gentios à obediência" (v. 18). Isto é muito mais do que uma
decisão inicial de "aceitar a Cristo". Inclui o discipulado da igreja
até o ponto de obediência por fé (16.26).
Alguns fazem separação entre
"conversão" e "discipulado", sendo o primeiro elemento
tarefa de "missões" e o segundo, da "edificação da igreja".
Paulo não fazia tal distinção. Seu objetivo não era levar as pessoas a uma
decisão inicial, mas conduzí-las à obediência. Não é este também o objetivo da
grande comissão, em Mateus 28.18-20?
OS INSTRUMENTOS DO TRABALHO
MISSIONÁRIO:
DECLARAÇÃO E DEMONSTRAÇÃO
DECLARAÇÃO E DEMONSTRAÇÃO
Como
Paulo realizou seu trabalho missionário? No final do v. 18, ele diz literalmente:
"... por palavra e por obras". É
evidente que Paulo não estabelecia prioridade entre a proclamação do evangelho
e sua demonstração por obras. As duas coisas faziam parte integral e inseparável
de sua maneira de testemunhar.
O OBJETO MISSIONÁRIO: AS NAÇÕES
Tanto "gentios" quanto
"nações" traduzem uma única palavra grega, ethnos. A ideia de ethnos está muito mais próxima da ideia de povos
ou grupos étnicos do que países. O objeto com o qual as missões lidam são as diversas
etnias. Paulo teve ideia semelhante, e isto se percebe pelo fato de ele ter
atuado dentro dos limites de um só governo, o Império Romano, enquanto fazia
distinção entre os povos deste império.
Por isso se fala muito em missões
transculturais, em vez de missões estrangeiras, pois as missões não lidam com
nações como países, mas como etnias.
O APOIO MISSIONÁRIO: A IGREJA LOCAL
Ao escrever esta carta, Paulo está
cultivando um relacionamento com a igreja de Roma (fundada por outrem) com o objetivo
de torná-la sua segunda base missionária para a evangelização da região entre a
capital do império e a Espanha (15.23-24).
A igreja de Antioquia já fora sua
primeira base para a evangelização da região entre Jerusalém e o Ilírico (v.
19), e agora Paulo quer ligação semelhante com a igreja de Roma. É importante
ressaltar este ponto, pois, hoje, há muitas organizações missionárias que não procuram
uma ligação com as igrejas locais.
A VOLTA DE JESUS E
A URGÊNCIA MISSIONÁRIA
Grande parte dos ensinos de Jesus
trata do reino de Deus. O assunto marcou o ministério de Jesus do início (Mc l.
15) ao fim (At l .3). As parábolas, sua maneira popular de ensinar, focalizam
tanto o assunto que, frequentemente, são chamadas de "parábolas do
reino". De fato, nos evangelhos há mais de 70 referências de Jesus ao
reino.
O ensino de Jesus sobre o reino
também tem a ver com missões, pois foi justamente este assunto que ele abordou
com os discípulos no período entre a ressurreição e a ascensão, preparando-os
para o Pentecoste e a explosiva expansão missionária da Igreja.
O reino de Deus possui dois aspectos
temporais. Por um lado, já está presente, pois o próprio ministério de Jesus,
em sua primeira vinda, o inaugurou (Lc 11.20; Mt 12.28). Por outro lado, seu
cumprimento ainda não se deu, porque aguarda a volta de Jesus (Mt 13.40-41). Os
dois lados são importantes.
O ESCOPO DO REINO É UNIVERSAL
Jesus confirma a perspectiva
missionária universal do Antigo Testamento. Ensina que, no último dia, muita
gente virá do Oriente e do Ocidente, do Norte e do Sul, e tomará lugar à mesa
no reino de Deus (Lc 13.29). As bênçãos do reino de Deus são para todos os
povos do mundo. É muito preciosa esta descrição do reino como uma festa. Mas,
antes de sua realização, um convite deve ser enviado às nações, a fim de que os
convidados venham à festa. Este é o trabalho de "missões".
Referencias:
-1992 C. Timothy
Carriker1ª edição: -1992Reimpressão:
1999- MISSÕES NA BIBLIA
ECLESIOLOGIA/MISSIOLOGIA-IBADEP-EDIÇÃO 2011