quinta-feira, 14 de junho de 2012

Os julgamentos associados à segunda vinda




            As Escrituras prevêem um julgamento vindouro de Deus sobre todos os homens. Tal era a expectativa do salmista quando escreveu:
            ... porque vem, vem julgar a terra; julgará o mundo com justiça e os po­vos, consoante a sua fidelidade (Sl 96.13).

Paulo corrobora a mesma verdade ao dizer:
            Porquanto estabeleceu um dia em que há de julgar o mundo com justiça, por meio de um varão que destinou e acreditou diante de todos, ressuscitando-o dentre os mortos (At 17.31).

            O assunto do julgamento é extenso na Palavra de Deus e compre­ende julgamentos como o julgamento da cruz (Jo 5.24; Rm 5.9; 8.1; 2 Co 5.21; Gl 3.13; Hb 9.26-28; 10.10,14-17), o julgamento do crente pela dis­ciplina (1 Co 11.31,32; Hb 12.5-11), o autojulgamento do crente (l Jo 1.9; I Co 11.31; Sl 32; 51), o julgamento das obras dos crentes no tribunal de Cristo (Rm 14.10; I Co 3.11-15; 4.5; 2 Co 5.10).
            Com exceção do último julgamento mencionado, que já foi examinado, esses julgamentos não estão relacionados ao plano escatológico de Deus. É necessário analisar quatro julgamentos que têm implicações escatológicas: o julgamento da nação de Israel (Ez 20.37,38; Zc 13.8,9), o julgamento das nações (Mt 25.31-46; Is 34.1,2; JI 3.11-16), o julgamento dos anjos caídos (Jd 6) e o julgamento do grande trono branco (Ap 20.11-15).

I. O Julgamento sobre a Nação de Israel

            As Escrituras ensinam que o futuro plano de julgamento começa­rá com um julgamento sobre a nação de Israel. Para eles foi prometido, por intermédio das alianças, um reino que o Messias, filho de Davi, dominaria. Antes que esse reino seja instituído no Seu retorno pessoal à terra, deve haver um julgamento sobre Israel para determinar aque­les que entrarão nesse reino, pois é revelado claramente que "nem to­dos os de Israel são, de fato, israelitas" (Rm 9.6).

            A. A ocasião do julgamento. A indicação mais clara da ocasião do julgamento de Israel é dada na cronologia dos acontecimentos profeti­zados pelo Senhor em Mateus 24 e 25. Como dissemos anteriormente, esses capítulos dão a seguinte cronologia:
            1) o período de tribulação (24.4-26),
            2) a segunda vinda do Messias à terra (24.27-30),
            3) o ajuntamento de Israel (24.31),
            4) o julgamento de Israel (25.1-30),
            5) o julgamento dos gentios (25.31-46),
            6) o reino a seguir. Nessa cronologia cuidadosamente planejada, o julgamento sobre Israel segue a segunda vin­da de Cristo à terra e o ajuntamento conseqüente de Israel como nação.

            B. O local do julgamento. Já que Israel é um povo terreno, esse julga­mento deve acontecer na terra após o retorno físico do Senhor (Zc 14.4). Isso não pode ser espiritualizado para ensinar um julgamento de almas por ocasião da morte ou algo desse tipo. Já que o Senhor está na terra, o julgamento deve acontecer onde Ele está. Ezequiel diz:
            Tirar-vos-ei dentre os povos e vos congregarei das terras nas quais andais espalhados, com mão forte, com braço estendido e derramado furor. Levar-vos-ei ao deserto dos povos e ali entrarei em juízo convosco, face a face. Como entrei em juízo com vossos pais, no deserto da terra do Egito, assim entrarei em juízo convosco, diz o Senhor Deus. Far-vos-ei passar debaixo do meu cajado, e vos sujeitarei à disciplina da aliança; separarei dentre vós os rebeldes e os que transgrediram contra mim; da terra das suas moradas eu os farei sair, mas não entrarão na terra de Israel; e sabereis que eu sou o Senhor [Ez 20.34-38].

            A partir dessa referência, talvez pareça que o julgamento aconteceria nas fronteiras da terra, assim como o julgamento divino caiu sobre os israelitas em Cades-Barnéia quando os rebeldes não receberam permis­são para entrar na terra. De igual modo, o julgamento aqui em questão impedirá qualquer rebelde de entrar na terra naquele dia.

            C. Os julgados. Com base na passagem de Ezequiel recém-citada, as­sim como em várias passagens que lidam com a restauração de Israel, fica evidente que esse julgamento cairá sobre todos os israelitas viventes, os quais serão reunidos e julgados. Mateus 25.1-30 prevê um julgamento sobre toda a nação. O Israel ressuscitado deve ser examinado para recompensas e isso sem dúvida acontecerá juntamente com a ressurreição de Israel na segunda vinda. No entanto, o Israel ressuscitado não está incluído nesse julgamento.

            D. A base do julgamento. Já foi demonstrado, com base no estudo de Mateus 25.1-30, que Deus julga para separar os salvos dos incrédulos em Israel. As obras do indivíduo serão trazidas a juízo. Ezequiel deixa isso claro:
            Far-vos-ei passar debaixo do meu cajado e vos sujeitarei à disciplina da aliança; separarei dentre vós os rebeldes e os que transgrediram contra mim (Ez 20.37,38).

Isso é descrito ainda por Malaquias:
            Mas quem poderá suportar o dia da sua vinda? E quem subsistir quando ele aparecer? Porque ele é como o fogo do ourives e como a potassa dos lavandeiros. Assentar-se-á como derretedor e purificador de prata; puri­ficará os filhos de Levi e os refinará como ouro e como prata; eles trarão ao Senhor justas ofertas.
            Chegar-me-ei a vós outros para juízo; serei testemunha veloz contra os feiticeiros, e contra os adúlteros, e contra os que juram falsamente, e contra os que defraudam o salário do jornaleiro, e oprimem a viúva e o órfão, e torcem o direito do estrangeiro, e não me temem, diz o Senhor dos Exércitos (Ml 3.2,3,5).

            As ações individuais revelarão claramente a condição espiritual do co­ração nesse julgamento, que separará salvos de incrédulos.

            E.  O resultado do julgamento. Há um resultado duplo desse julga­mento.
            1) Em primeiro lugar, os incrédulos são tirados da terra. "... não entrarão na terra de Israel" (Ez 20.37); "E o servo inútil, lançai-o para fora, nas trevas. Ali haverá choro e ranger de dentes" (Mt 25.30). Logo, os incrédulos são destruídos antes de começar o milênio.

            2) Em segun­do lugar, os salvos são levados para a bênção milenar.
            ... e vos sujeitarei à disciplina da aliança (Ez 20.37).
            E, assim, todo o Israel será salvo, como está escrito: Virá de Sião o Liberta­dor e ele apartará de Jacó as impiedades. Esta é a minha aliança com eles, quando eu tirar os seus pecados (Rm 11.26,27).
            Assim, Deus reunirá a nação de Israel na segunda vinda e separará os salvos dos incrédulos. Os incrédulos serão lançados fora, e o sobrevi­vente do Israel salvo será levado para o milênio que Ele instituirá para cumprir suas alianças.

II. O Julgamento dos Gentios
           
            A. A hora do julgamento. Na cronologia de Mateus 24 e 25, o julga­mento dos gentios (Mt 25.31-46) aparece em seguida ao julgamento de Israel. Esse julgamento acontece após a segunda vinda de Cristo à ter­ra. Joel diz:
            Eis que, naqueles dias e naquele tempo, em que mudarei a sorte de Judá e de Jerusalém, congregarei todas as nações e as farei descer ao vale de Josafá; e ali entrarei em juízo contra elas por causa do meu povo e da minha herança, Israel, a quem elas espalharam por entre os povos, repar­tindo a minha terra entre si (Jl 3.1,2).

            O profeta revela que o julgamento sobre os gentios acontecerá ao mes­mo tempo que o Senhor restaurar a nação de Israel à sua terra, que é na segunda vinda. Logo, esse julgamento deve ocorrer durante a segunda vinda, após o ajuntamento e julgamento de Israel. Ele deve preceder a instituição do milênio, pois os aceitos nesse julgamento são levados para o reino milenar (Mt 25.34).

            B. O local do julgamento. Visto que esse julgamento segue a segun­da vinda, deve ser um acontecimento que se desenrola na terra. Não se pode dizer que acontece na eternidade. Peters argumenta:
            Como não há nenhuma afirmação de que alguma dessas nações ressur­giu dos mortos, igualmente não há indicação de que alguma parte delas tenha descido do céu para ser julgada; a linguagem, desde que nenhuma teoria prévia seja levantada para influenciá-la, simplesmente refere-se a nações aqui na terra, de certa forma reunidas na segunda vinda.(G. N. H. Peters, Theocratic kingdom, n, p. 375)

            Joel 3.2 afirma que esse julgamento acontecerá no "vale de Josafá". Esse local não é fácil de identificar. Alguns acreditam que seja sinônimo de "vale de Bênção" (2Cr 20.26), em que Josafá derrotou os moabitas e os amonitas, cuja vitória deu ao lugar um novo nome. Bewer, no entanto, diz:
            É certo que nosso autor não tinha em mente o vale de Bênção que está ligado à vitória sobre os moabitas, amonitas e meunitas, 2Crônicas 20.20-28. Não só seu nome, mas também a distância está contra ele. Não se sabe se havia um vale perto de Jerusalém com o nome do rei Josafá em tempos antigos.(J. A. Bewer, Obadiah and Joel, International criticai commentary, p. 128)

            Outros acreditam que esse é o vale de Cedrom que fica nos arredores de Jerusalém. No entanto,
            Sabe-se bem que há uma ravina profunda que agora leva esse nome nos arredores de Jerusalém separando a cidade santa do monte das Olivei­ras. Mas é possível que o nome tenha sido aplicado a ela apenas por causa dessa profecia — não que ela tivesse esse nome quando Joel falou, nem por séculos depois, já que temos de chegar ao quarto século da era cristã antes de ele ser designado dessa maneira.(Harry A. Ironside, Notes on the minor prophets, p. 129)

            Talvez a solução quanto ao local em questão seja apresentada em Zacarias 14.4, em que vemos que no retorno do Senhor ao monte das Oliveiras será aberto um grande vale.
            Naquele dia, estarão os seus pés sobre o monte das Oliveiras, que está defronte de Jerusalém para o oriente; o monte das Oliveiras será fendido pelo meio, para o oriente e para o ocidente, e haverá um vale muito gran­de; metade do monte se apartará para o norte, e a outra metade, para o sul (Zc 14.4).

            Um vale que ainda não existe hoje aparecerá no tempo da segunda vinda. Já que o nome Josafá significa "Jeová julga", talvez o vale recém-aberto fora de Jerusalém receba esse nome por causa do grande aconte­cimento que ali ocorrerá.

            C. Os participantes do julgamento. Devemos observar que as pessoas levadas a esse julgamento são indivíduos vivos, não os mortos que fo­ram vivificados e julgados. Peters diz:
            A pergunta diante de nós é a seguinte: Todas as nações incluem "os mor­tos", ou apenas nações viventes? Ao responder a essa questão, temos o seguinte:
            1) Nada é dito sobre "os mortos". Dizer que eles são indicados depreende-se do fato de que essa passagem é — erroneamente— sincroni­zada com Apocalipse 20.11-15.
            2) A palavra traduzida por "nações" nun­ca é, de acordo com o testemunho uniforme de críticos e estudiosos, em­pregada para designar "os mortos", a não ser que seja uma exceção solitá­ria [...]
            3) A palavra é empregada para denotar nações vivas e existentes e quase exclusivamente para nações dos "gentios".
            4) O Espírito nos dá testemunho abundante de que precisamente tal reunião de nações viven­tes acontecerá logo antes de começar o milênio, e que haverá uma vinda e também um julgamento [...]
            5) Julgamentos nacionais são derramados ape­nas sobre nações vivas e existentes, e não sobre mortos que não possuem nenhuma organização ligada à idéia de nação ou estado [...]
            6) Como não há nenhuma afirmação de que alguma dessas nações tenha ressuscitado dos mortos, também não há indicação de que alguma parte delas tenha descido do céu para ser julgada...(Peters, op. cit., n, p. 374-5)

            De acordo com a concordância de Strong [relacionada à versão inglesa da Bíblia], a palavra nação (ethnos) é traduzida por "povo" duas vezes, "pagãos" cinco vezes, "nação" 64 vezes e "gentios" 93 vezes. Esse deve ser, então, considerado um julgamento sobre os gentios vivos por oca­sião da segunda vinda de Cristo.

            D. A base do julgamento. A base na qual o julgamento é distribuído é o tratamento recebido por um grupo chamado "meus irmãos".
            O Rei, respondendo, lhes dirá: Em verdade vos afirmo que, sempre que o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes.
            Então, lhes responderá: Em verdade vos digo que, sempre que o deixastes de fazer a um destes mais pequeninos, a mim o deixastes de fazer (Mt 25.40,45).

            Devemos observar, com base em Joel 3.2, que Israel é o centro de todo o plano de julgamento: "Congregarei todas as nações [...] e ali entrarei em juízo contra elas por causa do meu povo e da minha herança, Israel, a quem elas espalharam por entre os povos, repartindo a minha terra entre si".
            A profecia de Isaías parece reduzir essa referência a Israel apenas às testemunhas crentes, mencionando o ministério daquele grupo es­pecífico, uma vez que ele escreve:
            Porei entre elas um sinal e alguns dos que foram salvos enviarei às na­ções, a Társis, Pul e Lude, que atiram com o arco, a Tubal e Javã, até às terras do mar mais remotas, que jamais ouviram falar de mim, nem viram a minha glória; eles anunciarão entre as nações a minha glória. Trarão todos os vossos irmãos, dentre todas as nações, por oferta ao Senhor, so­bre cavalos, em liteiras e sobre mulas e dromedários, ao meu santo mon­te, a Jerusalém, diz o Senhor, como quando os filhos de Israel trazem as suas ofertas de manjares, em vasos puros à Casa do Senhor (Is 66.19,20).

            De acordo com o livro de Apocalipse, Deus selará um remanescente fiel, os 144 mil, no início do período da tribulação. Eles serão um rema­nescente de testemunhas durante todo o período, e os frutos do seu ministério são descritos em Apocalipse 7.9-17, em que é vista uma gran­de multidão redimida. Os "irmãos" são evidentemente essas mesmas testemunhas fiéis do período da tribulação.
            Esse julgamento deve determinar a condição espiritual dos réus. Ele definirá se o réu é salvo ou incrédulo. Uma análise descuidada da passagem parece mostrar que esse é um julgamento baseado em obras, com o resultado atrelado às obras do réu. Uma observação mais cuida­dosa não apoiará tal conclusão. 1) Em primeiro lugar, o princípio aceito nas Escrituras é o de que um homem jamais é salvo por obras, pois a salvação nunca é oferecida com base em obras. Mateus 25.46 diz: "E irão estes para o castigo eterno, porém os justos, para a vida eterna".
            Vemos que o destino eterno do povo colocado sob julgamento está sen­do decidido. Esse não poderia ser um julgamento de obras, pois o destino eterno nunca é decidido nessa base, mas com base na aceitação ou rejei­ção da obra de Cristo por nós. 2) Além disso, os que alimentaram, de­ram de beber, vestiram e visitaram os "irmãos" foram chamados justos. Se esse é um julgamento de obras, eles devem ser considerados justos com base no que fizeram. Isso seria contrário ao ensinamentos das Es­crituras.
            Durante o período do ministério dos irmãos, "será pregado este evangelho do reino por todo o mundo, para testemunho a todas as na­ções" (Mt 24.14). Anteriormente foi demonstrado que o evangelho do reino implica a pregação da morte de Cristo e do sangue de Cristo como o caminho da salvação. Tal evangelho era o que esses irmãos estavam proclamando. Os gentios que participarão desse julgamento serão acei­tos ou rejeitados com base em sua aceitação ou rejeição do evangelho pregado pelos irmãos. Os que aceitaram seu evangelho aceitaram o mensageiro, e os que rejeitaram o seu evangelho rejeitaram o mensa­geiro.
            O Senhor disse: "Se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças, de modo algum entrareis no reino dos céus" (Mt 18.3).
            Esse evangelho do reino exigia fé pessoal e um novo nascimento, mais bem reconhecidos pelas obras que produzem. Peters diz:
            O Salvador, então, de acordo com a analogia geral das Escrituras sobre o assunto, declara que, quando Ele vier com Seus santos em glória para estabelecer Seu reino, aqueles que, dentre as nações, demonstrarem fé viva por meio de obras ativas de compaixão e auxílio herdarão (i.e., serão reis so­bre) — com aqueles que os precederam — um reino. (Ibid., n, p. 376)

Gaebelein escreve de forma semelhante:
            Algumas das nações receberão seu testemunho. Elas crerão no evangelho do reino, esse último grande testemunho. Manifestarão a verdade de sua fé pelas obras. Os pregadores que saem são acusados publicamente e odi­ados por outros, e, assim, sofrem, famintos, e alguns são aprisionados. As nações que crêem no seu testemunho demonstrarão sua fé ao dar-lhes de comer, ao vesti-los, ao visitá-los na prisão e ao demonstrar-lhes amor.
            O caso de Raabe pode ser visto como uma predição tipológica. Ela creu, e isso numa época em que o julgamento cercava Jericó (o tipo do mundo). "Pela fé Raabe, a meretriz, não foi destruída com os desobedientes, por­que acolheu com paz aos espias." E novamente foi escrito sobre ela: "De igual modo, não foi também justificada por obras a meretriz Raabe, quan­do acolheu os emissários e os fez partir por outro caminho?". Ela tinha fé e a manifestou em obras. E assim essas nações crêem nos mensageiros e os tratam com gentileza. A graça então os cobre porque eles creram. (Amo C. Gaebelein, The Gospel According to Matthew, n, p. 247)

            Portanto, conclui-se que os gentios são julgados com base em suas obras para verificar se são salvos ou incrédulos pelo fato de terem recebido ou rejeitado o evangelho pregado pelo remanescente duran­te a tribulação.
            Uma questão relacionada é se as nações estão aqui sendo julgadas em bases nacionais ou individuais. Há uma grande divergência de opi­nião quanto a essa questão. No entanto, várias considerações parecem apoiar a teoria de que os que comparecem a esse juízo são julgados não por sua identidade nacional, mas sim como indivíduos.
            1) As nações serão julgadas com base na recepção ou rejeição da mensagem do evan­gelho do reino. Qualquer mensagem apresentada é oferecida esperan­do uma resposta pessoal. Já que essa mensagem exige a fé e o novo nascimento que daí resulta, os que são julgados devem ser julgados pessoalmente, quanto à reação que tiveram como indivíduos para com a mensagem. Apocalipse 7.9-17 revela que saiu da tribulação grande multidão dos que "lavaram suas vestiduras e as alvejaram no sangue do Cordeiro". Eles só poderiam ser salvos como indivíduos.
            2) Se esse julgamento fosse feito em bases nacionais, nações inteiras precisariam ser admitidas no milênio. Logo, já que nação alguma é composta só por pessoas salvas, incrédulos entrariam no milênio. No entanto, as Escri­turas ensinam que nenhum incrédulo entrará no milênio (Jo 3.3; Mt 18.3; Jr 31.33,34; Ez 20.37,38; Zc 13.9; Mt 25.30,46). Logo, deve haver um julgamento individual para verificar a salvação.
            3) Se fosse um julga­mento nacional, deveria ser feito com base em obras, já que nações não podem crer. Isso introduziria nas Escrituras um novo método de salva­ção com base nas obras. Já que não pode ser demonstrado em lugar algum das Escrituras que uma pessoa receba vida eterna por causa de suas obras, esse deve ser um julgamento individual.            
            4) Todos os outros julgamentos no plano de julgamento divino são julgamentos individu­ais. Nenhuma outra parte desse plano jamais é interpretada de outra forma que não a individual, portanto essa interpretação estaria em har­monia com o plano inteiro.
            5) Referências paralelas ao julgamento na consumação do século junto com a segunda vinda parecem tratar de julgamentos individuais:
            Deixai-os crescer juntos até à colheita, e, no tempo da colheita, direi aos ceifeiros: ajuntai primeiro o joio, atai-o em feixes para ser queimado; mas o trigo, recolhei-o no meu celeiro (Mt 13.30).
            O reino dos céus é ainda semelhante a uma rede que, lançada ao mar, recolhe peixes de toda espécie. E, quando já está cheia, os pescadores ar­rastam-na para a praia e, assentados, escolhem os bons para os cestos e os ruins deitam fora. Assim será na consumação do século: sairão os anjos, e separarão os maus dentre os justos, e os lançarão na fornalha acesa; ali haverá choro e ranger de dentes (Mt 13.47-50).
            ... Eis que veio o Senhor entre suas santas miríades, para exercer juízo contra todos e para fazer convictos todos os ímpios, acerca de todas as obras ímpias que impiamente praticaram e acerca de todas as palavras insolentes que ímpios pecadores proferiram contra ele (Jd 14,15).

            Cada um desses casos, que retratam esse mesmo processo de julga­mento na separação dos justos antes do milênio, é um julgamento indi­vidual. Ninguém interpreta essas passagem nacionalmente. Devemos concluir que Mateus 25, semelhantemente, retrata esse mesmo julga­mento individual.
            Pode-se questionar se o termo as nações teria uso justo para indiví­duos. A palavra é aplicada a indivíduos em Mateus 6.31,32; 12.21; 20.19; 28.19; Atos 11.18; 15.3; 26.20. Logo, já que é aplicada a indivíduos em outras passagens, também pode ser usada em Mateus 25.31.

            E. O resultado do julgamento. Haverá um resultado duplo do jul­gamento sobre os gentios vivos.
            1) Aos que foram destinados à direita do Rei é feito o convite: "Vinde, benditos de meu Pai! Entrai na posse do reino que vos está preparado desde a fundação do mundo" (Mt 25.34).
            2) Aos destinados à esquerda do Pai é pronunciado o juízo: "Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos" (Mt 25.41).
            Um grupo é levado para o reino para tornar-se súdito do Rei, enquanto o outro é excluído do reino e envia­do ao lago de fogo. Esse grupo de gentios levado ao reino cumpre as profecias (Dn 7.14; Is 55.5; Mq 4.2) que afirmam que grande grupo de gentios será colocado sob o governo do Rei, mesmo que esse seja o reino de Israel.


III. O Julgamento dos Anjos Caídos

            A. A hora do julgamento. Judas revela o fato de que anjos serão tra­zidos a julgamento.
            E a anjos, os que não guardaram o seu estado original, mas abandonaram o seu próprio domicílio, ele tem guardado sob trevas, em algemas eter­nas, para o juízo do grande Dia (Jd 6).

            O elemento tempo está nas palavras "o grande Dia". Esse deve ser o dia do Senhor, no qual todo julgamento se cumprirá. Os anjos estão evidentemente associados a Satanás em seu julgamento, que precede o julgamento do grande trono branco (Ap 20.10). Conclui-se, assim, que os anjos caídos serão julgados após o fim do milênio, mas antes do julgamento do grande trono branco.

            B. O local do julgamento. As Escrituras silenciam quanto ao lugar no qual se dará esse julgamento. No entanto, já que é um julgamento de seres angélicos, parece lógico supor que ele acontecerá no reino ou na esfera angelical. Já que quem os julga é Rei nessa mesma esfera em que sua atividade estava centralizada, o local de sua atividade poderia tor­nar-se o local do seu julgamento.

            C. Os réus do julgamento. Pedro deixa claro que todos os anjos caí­dos serão incluídos nesse julgamento.
            Ora, se Deus não poupou anjos quando pecaram, antes, precipitando-os no inferno os entregou a abismos de trevas, reservando-os para juízo... (2Pe 2.4).

            D. A base do julgamento. O julgamento sobrevém a anjos caídos por causa do pecado de seguir Satanás na sua rebelião contra Deus (Is 14.12-17; Ez 28.12-19).
           
            E.  O resultado do julgamento. Todos aqueles sobre quem esse julga­mento é pronunciado são enviados ao lago de fogo para sempre.
            O diabo, o sedutor deles, foi lançado para dentro do lago de fogo e enxo­fre, onde já se encontram não só a besta como o falso profeta; e serão atormentados de dia e de noite, pelos séculos dos séculos (Ap 20.10).

IV. O Julgamento do Grande Trono Branco

            O julgamento do grande trono branco (Ap 20.11-15) pode muito bem ser chamado de "julgamento final". Ele constitui o término do pla­no de ressurreição e de julgamento de Deus.

            A. A hora do julgamento. E claramente indicado que esse julgamen­to acontece após o fim do reino milenar de Cristo.
            Os restantes dos mortos não viveram até que se completassem os mil anos.
            Vi também os mortos, os grandes e os pequenos, postos em pé dian­te do trono. Então, se abriram livros. Ainda outro livro, o livro da vida, foi aberto. E os mortos foram julgados, segundo as suas obras, conforme o que se achava escrito nos livros. Deu o mar os mortos que nele estavam. A morte e o além entregaram os mortos que neles havia. E foram julgados, um por um, segundo as suas obras (Ap 20.5,12,13).

            B. O local do julgamento. Esse julgamento não acontece nem no céu, nem na terra, mas em algum lugar entre as duas esferas.
            Vi um grande trono branco e aquele que nele se assenta, de cuja presença fugiram a terra e o céu, e não se achou lugar para eles (Ap 20.11).

            C. Os réus do julgamento. Fica evidente com base na própria passa­gem que esse é um julgamento dos chamados "os mortos". Demons­trou-se previamente que o plano de ressurreição dos salvos se comple­tou antes de começar o milênio. Os únicos ainda não-ressurrectos eram os mortos incrédulos. Esses devem ser, então, os réus do julgamento. Peters diz:
            O julgamento de Apocalipse 20.11-15, após os mil anos, não é das na­ções viventes, mas preeminentemente "dos mortos". Apenas os mortos são mencionados, e quem acrescenta as "nações viventes" a ele (para criar um julgamento universal) está certamente acrescentando à profe­cia. Tal julgamento é necessário para completar nas proporções certas aquilo que, de outra forma, estaria incompleto, a ordem do procedi­mento divino na administração da justiça. Pois, se não houvesse tal pro­fecia do julgamento "dos mortos" no fim do milênio, isso seria justa­mente considerado um grave defeito no nosso sistema de fé. Com ele, temos um todo harmonioso. (Peters, op. cit., n, p. 382)

            D. A base do julgamento. Esse julgamento, ao contrário de uma con­cepção popular errada, não tem por finalidade apurar se aqueles que o enfrentam serão salvos ou não. Todos os que devem ser salvos já foram salvos e entraram no seu estado eterno. Os que serão abençoados eter­namente já entraram na sua bênção. Esse é antes um julgamento das más obras dos incrédulos. A sentença de "segunda morte" é pronunci­ada contra eles.
            Então, se abriram livros. Ainda outro livro, o livro da vida, foi aberto. E os mortos foram julgados, segundo as suas obras, conforme o que se achava escrito nos livros (Ap 20.12).

            Como no julgamento dos gentios as obras demonstram fé ou falta de fé, da mesma forma as obras demonstram aqui a ausência de vida. O fato de que haverá níveis de julgamento distribuído a esses incrédulos é implicado em outra passagem (Lc 12.47,48). Mas a sentença da segun­da morte será dada a todos. A primeira morte foi a morte espiritual sofrida em Adão. A segunda morte é a confirmação e realização eterna da separação de Deus que a primeira morte representava.

            E. O resultado do julgamento. O resultado desse julgamento fica bem claro em Apocalipse 20.15: "E, se alguém não foi achado inscrito no livro da vida, esse foi lançado para dentro do lago de fogo". A eterna separação de Deus é o destino eterno dos incrédulos.
            Até mesmo um observador casual poderia perceber que a Palavra de Deus não apóia a idéia de um julgamento geral, quando não há nada menos que oito julgamentos diferentes mencionados nas Escrituras, cada qual com uma ocasião, um local, uma base e um resultado diferente. Os que acreditam em tal julgamento geral identificam o julgamento dos gentios (Mt 25.31-46) com o julgamento do grande trono branco (Ap 20.11-15).
            Há uma série de diferenças entre esses dois julgamentos que impossibilitam torná-los um. Em Mateus não há nenhuma ressurreição antes do julgamento, mas apenas uma reunião dos eleitos (24.31), en­quanto em Apocalipse há uma ressurreição de todos os incrédulos. Em Mateus o julgamento é de nações viventes, mas em Apocalipse é dos mortos. Em Mateus as nações são julgadas, mas Apocalipse não trata de entidades nacionais, pois o céu e a terra fugiram e, já que as nações estão confinadas à terra, o mesmo acontecimento não poderia ser des­crito.
            Em Mateus o julgamento é na terra, mas em Apocalipse o céu e a terra fugiram. Em Mateus não há livros a ser consultados, enquanto em Apocalipse os livros são abertos, o livro da vida é trazido, e os que não se encontram nele são lançados no lago de fogo. Em Mateus o julga­mento ocorre no retorno de Cristo à terra, mas em Apocalipse ocorre após o fim dos mil anos da presença de Cristo na terra. Em Mateus aparecem duas classes, os justos e os incrédulos, mas em Apocalipse apenas os incrédulos aparecem. Em Mateus alguns foram para o reino e outros para o castigo, ao passo que em Apocalipse nenhum dos que são julgados vai para a bênção, mas todos vão para o castigo eterno.
            Em Mateus o juiz está sentado no "trono da sua glória" (25.31), mas em Apocalipse Ele está sentado no "grande trono branco". Em Mateus a base do julgamento é o tratamento dos irmãos, enquanto em Apocalipse o julgamento se baseia nas suas más obras. Em Mateus a vinda de Cris­to precede o julgamento, mas em Apocalipse nenhuma vinda é mencio­nada, já que Cristo está na terra durante o milênio. Em Mateus são men­cionados o Filho do homem, três classes de homens (ovelhas, bo­des, irmãos) e também anjos, mas em Apocalipse são vistos apenas Deus e uma classe de homens.
            Em Mateus a sentença é pronunciada e a sepa­ração é feita antes de ser conhecida a causa do julgamento, mas não há nenhum julgamento em Apocalipse até que ocorra cuidadoso exame dos livros. Em Mateus não há um milênio precedente, pois encontra­mos os que passaram fome, sede, nudez, doença, aprisionamento e fo­ram estrangeiros, mas em Apocalipse uma era milenar precede o acon­tecimento (Ap 20.5). Essas considerações parecem suficientes para apoiar a afirmação de que não se trata de um único e mesmo julgamento, mas de duas partes separadas do plano de julgamento de Deus.
            A segunda vinda é um acontecimento culminante no plano de Deus. É culminante no plano de tratamento do mal, uma vez que Sata­nás será aprisionado e a justiça será manifestada. E culminante no pla­no de julgamento porque todo inimigo vivo do plano de Deus será jul­gado. E culminante para o plano da terra, porque esta poderá regozijar-se na retirada da maldição. E culminante no plano de ressurreição por­que todos os justos serão ressuscitados para compartilhar Sua glória. E culminante no plano divino de manifestar Sua soberania uma vez que o Filho é manifestado em glória no Seu reino. Tal acontecimento não pode ser minimizado nem retirado de seu lugar devido no plano de Deus para as eras da história.

terça-feira, 12 de junho de 2012

As ressurreições associadas à segunda vinda



   O Antigo Testamento associava a esperança da ressurreição à esperan­ça messiânica do dia do Senhor. Em Daniel, a ressurreição (12.2) é vista como um acontecimento posterior à época de tribulação sob o desolador (12.1). Em Isaías, a ressurreição (26.19) é apresentada com referência à "indignação" (26.20,21). No evangelho de João, a ressurreição é apre­sentada como uma esperança associada ao "último dia", ou dia do Se­nhor (11.24). Já que isso é verdade, é necessário analisar a segunda vin­da em sua relação com o plano da ressurreição. Não é possível, nesse sentido, examinar toda a doutrina da ressurreição, mas temos de limi­tar o estudo aos aspectos escatológicos ou proféticos da doutrina.

            Prontamente observamos que a ressurreição é uma doutrina Cardinal da Palavra de Deus. O tema da ressurreição de Cristo dominou o ministério dos apóstolos após a ascensão de Cristo, a ponto de quase excluir Sua morte. Em mais de quarenta referências à ressurreição do Novo Testamento, com a possível exceção de Lucas 2.34, o termo é sem­pre usado em referência a uma ressurreição literal, jamais em sentido espiritual ou não-literal, e relaciona-se ao soerguimento do corpo físi­co. Isso teremos como pressuposto, e não como objeto de debate, neste momento.

I. Os Tipos de Ressurreição


            Nas Escrituras dois tipos de ressurreição são previstos pelo plano de ressurreição de Deus: a ressurreição para a vida e a ressurreição para o juízo.

            A. A ressurreição para a vida. Há uma série de passagens que ensi­nam essa parte característica do plano de ressurreição.
            Antes, ao dares um banquete, convida os pobres, os aleijados, os coxos e os cegos; e serás bem-aventurado, pelo fato de não terem eles com que recompensar-te; a tua recompensa, porém, tu a receberás na ressurreição dos justos (Lc 14.13,14).
            Para o conhecer, e o poder da sua ressurreição, e a comunhão dos seus sofrimentos, conformando-me com ele na sua morte; para, de algum modo, alcançar a ressurreição dentre os mortos (lit, a ressurreição, aquela de entre os mortos) (Fp 3.10-14).
            Mulheres receberam, pela ressurreição, os seus mortos. Alguns foram tor­turados, não aceitando seu resgate, para obterem superior ressurreição (Hb 11.35).
            Não vos maravilheis disto, porque vem a hora em que todos os que se acham nos túmulos ouvirão a sua voz e sairão: os que tiverem feito o bem, para a ressurreição da vida; e os que tiverem praticado o mal, para a ressurreição do juízo (Jo 5.28,29).
            Bem-aventurado e santo é aquele que tem parte na primeira ressurreição; sobre esses a segunda morte não tem autoridade; pelo contrário, serão sacerdotes de Deus e de Cristo e reinarão com ele os mil anos (Ap 20.6).

            Essas referências mostram que há uma parte do plano da ressur­reição chamada "a ressurreição dos justos", a "ressurreição dentre os mortos", "uma superior ressurreição", "a ressurreição da vida", e "a primeira ressurreição". Tais expressões levam a crer que há uma sepa­ração; a ressurreição de parte dos que estão mortos, a qual deixa inalterada a condição de alguns mortos, enquanto os vivificados so­frem uma transformação completa. Blackstone diz:

            Se Cristo está vindo para ressuscitar os justos mil anos antes dos injustos, seria natural e imperativo que essa primeira ressurreição fosse chamada ressurreição dos ou dentre os mortos, já que o restante dos mortos serão deixados [...] isso é justamente o que é feito com extremo cuidado na Pa­lavra [...] Ele consiste no uso que se faz no texto grego das palavras [...] [ek nekron].
            Essas palavras significam "dos mortos" ou "dentre os mortos", o que implica que outros mortos serão deixados para trás.
            A ressurreição [...] [nekron ou ek nekron] ([...] dos mortos) é aplicada a ambas as classes porque todos serão vivificados. Mas a ressurreição [...] (ek nekron —dentre os mortos) não é aplicada nenhuma vez aos injustos. A última expressão é usada ao todo 49 vezes, a saber: 34 vezes para ex­pressar a ressurreição de Cristo, que sabemos ter sido ressuscitado dentre os mortos; três vezes para expressar a suposta ressurreição de João Batista, que, como Herodes pensava, fora ressurrecto dentre os mortos; três vezes para expressar a ressurreição de Lázaro, que também foi ressurrecto den­tre os mortos; em três ocasiões, ela é usada figuradamente para expressar a vida espiritual que surge da morte causada pelo pecado (Rm 6.13; 11.15; Ef 5.14). Ela é empregada em Lucas 16.31 [...] "ainda que ressuscite al­guém dentre os mortos". E, em Hebreus 11.19, temos a fé de Abraão de que Deus ressuscitaria Isaque dentre os mortos.
            E nas quatro vezes restantes ela é usada para expressar uma ressur­reição futura dentre os mortos, isto é, em Marcos 12.25: "quando ressusci­tarem de entre os mortos..."; Lucas 20.35,36: "... a ressurreição dentre os mortos"; Atos 4.1,2: "a ressurreição dentre os mortos" [...]
            E em Filipenses 3.11 [...] a tradução literal é a ressurreição para fora dos mortos, em que a construção especial da linguagem dá uma ênfase especial à idéia de que essa é uma ressurreição para fora do meio dos mortos.
            Essas passagens mostram claramente que ainda haverá uma ressur­reição dentre os mortos; isto é, que parte dos mortos será ressuscitada, antes de todos serem vivificados. Olshausen afirma que a "expressão se­ria inexplicável caso não derivasse da idéia de que, dentre a multidão de mortos, alguns ressuscitarão primeiro".(W. E. Blackstone, Jesus is coming, p. 59-61)

            Visto que essa ressurreição é composta de várias partes, essa, ge­ralmente chamada a primeira ressurreição, podendo também ser chama­da com maior clareza a ressurreição para a vida (Jo 5.29), é a parte do plano da ressurreição na qual os indivíduos são vivificados para a vida eterna. Inclui todos os que, em qualquer ocasião, tenham sido ou ve­nham a ser vivificados para a vida eterna. O destino, não o tempo, de­termina a que parte do plano da ressurreição algum acontecimento deve ser atribuído.

            B. A ressurreição para condenação. As Escrituras antecipam outra parte do plano da ressurreição que trata dos incrédulos. Essa é a segunda ressurreição, ou a ressurreição para a condenação.
            ... os que tiverem praticado o mal, para a ressurreição do juízo (Jo 5.29).
            Os restantes dos mortos não reviveram até que se completassem os mil anos (Ap 20.5).
            Vi um grande trono branco e aquele que nele se assenta, de cuja presença fugiram a terra e o céu, e não se achou lugar para eles. Vi também os mortos, os grandes e os pequenos, postos em pé diante do trono [...] Deu o mar os mortos que nele estavam. A morte e o além entregaram os mortos que neles havia... (Ap 20.11-13).

            Visto que a primeira ressurreição foi completa antes de começar o reino de mil anos (Ap 20.5), "os mortos" mencionados em Apocalipse 20.11,12 só podem ser os que foram deixados para trás na ressurreição dentre os mortos e constituem os que são vivificados para a condenação. A se­gunda ressurreição, mais bem denominada ressurreição para a conde­nação, inclui todos os que são vivificados para o julgamento eterno. Não é a cronologia que determina quem participa da segunda ressur­reição, mas sim o destino do ressurrecto.

II. A Hora das Ressurreições


            A introdução de uma distinção no elemento tempo nas diferentes partes do plano de ressurreição trouxe consternação aos discípulos. No que diz respeito à transfiguração do Senhor, lemos:
            Ao descerem do monte, ordenou-lhes Jesus que não divulgassem as cousas que tinham visto, até ao dia em que o Filho do homem ressuscitasse den­tre os mortos. Eles guardaram a recomendação, perguntando uns aos outros que seria o ressuscitar dentre os mortos [ek nekron, de entre os mor­tos] (Mc 9.9,10).

Blackstone observa bem:
            ... vemos [...] por que os três discípulos favorecidos estavam "perguntan­do uns aos outros que seria o ressuscitar dentre os mortos". Eles entendi­am perfeitamente o que significava a ressurreição dos mortos, pois essa era uma doutrina comumemente aceita pelos judeus [Hb 6.2]. Mas a res­surreição dentre os mortos era uma nova revelação para eles. (Ibid., p. 62)

            O Antigo Testamento ensinava claramente o fato da ressurreição (Hb 11.17,18; Jó 14.1-13; 19.25,26; Sl 16.10; 49.15; Os 5.15-6.2; 13.14, Is 25.8; 26.19; Dn 12.2; Jo 5.28,29; 11.24), mas nenhuma revelação foi feita com respeito ao elemento tempo. Na verdade, podemos concluir que, não fosse a revelação contida no Novo Testamento, haveria uma res­surreição geral, na qual salvos e incrédulos seriam vivificados conjun­tamente a fim de ser separados para seu destino final, como ensinam os amilenaristas. No entanto, o Novo Testamento contém revelação clara­mente contrária a isso.
            Há várias passagens geralmente usadas para ensinar a doutrina falsa de uma ressurreição geral. A primeira delas é Daniel 12.2,3, em que o profeta escreve:
            Muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para a vida eterna, e outros para vergonha e horror eterno. Os que forem sábios, pois, resplandecerão como o fulgor do firmamento; e os que a muitos conduzi­rem à justiça, como as estrelas, sempre e eternamente.

            Nenhuma distinção de tempo parece ser feita aqui, logo conclui-se que uma ressurreição geral é ensinada. Tregelles comenta habilmente essa passagem:
            Não duvido de que a tradução correta desse versículo seja [...] "Muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão — esses para a vida eterna, mas aqueles [o resto dos que dormem, os que não ressuscitam nessa hora] para vergonha e horror eterno". O paralelismo da nossa versão —"uns [...] outros"— não ocorre em nenhum outro trecho da Bíblia hebraica, no sentido de tratar distributivamente qualquer classe geral que tenha sido previamente mencionada; isso é suficiente, creio eu, para autorizar nossa aplicação de sua primeira ocorrência aqui a todos os muitos que ressusci­tam, e a segunda à multidão dos que dormem, os que não ressuscitam nessa hora. Claramente essa não é uma ressurreição geral; ela aponta para "muitos dentre"; e é somente usando as palavras nesse sentido que pode­mos obter qualquer informação sobre o que acontece aos que continuam dormindo no pó da terra.
            Essa passagem foi interpretada pelos comentadores judeus no senti­do que mencionei. É claro que esses homens com o véu no coração não são guias confiáveis quanto ao uso do Antigo Testamento; mas servem de auxílio quanto ao valor gramatical e lexicográfico das frases e das pala­vras. Dois dos rabinos que comentaram esse profeta são Saadiah Haggaon (no século x da nossa era) e Aben Ezra (no século XII); este último era um escritor de habilidade e precisão mental inigualáveis. Ele explica o versículo da seguinte maneira:
            [...] sua interpretação é: os que acordarem ressuscitarão para a vida eter­na, e os que não acordarem ressuscitarão para vergonha e horror eterno...(S. R Tregelles, Remarks on the prophetic visions in the book of Daniel, p. 165-6)

            Devemos concluir que o profeta está afirmando o fato da ressurreição e a sua universalidade sem definir a hora específica em que as partes da ressurreição acontecerão.
            Uma passagem geralmente usada para apoiar a idéia de uma res­surreição geral é João 5.28,29. O Senhor diz:
            Não vos maravilheis disto, porque vem a hora em que todos os que se acham nos túmulos ouvirão a sua voz e sairão: os que tiverem feito o bem, para a ressurreição da vida; e os que tiverem praticado o mal, para a ressurreição do juízo.
           
            Afirma-se que o uso que o Senhor faz da palavra "hora" exige uma ressurreição geral tanto de salvos quanto de incrédulos. No entanto, essa palavra não precisa implicar tal plano de ressurreição geral. Harrison escreve:
            Devemos considerar, no entanto, que a linguagem não exige coincidência das ressurreições. O uso da palavra [...] (hora) em João 5.25 permite sua extensão por um longo período. O mesmo se aplica a 4.21,23. Jesus está falando da mesma maneira que os profetas do Antigo Testamento, que agrupavam sem diferenciação de tempo os acontecimentos que viam no horizonte afastado da história.
            A mesma característica é vista nos discur­sos escatológicos de Jesus nos evangelhos sinópticos, em que a destruição iminente de Jerusalém com os sofrimentos que a acompanham dificil­mente pode ser separada da descrição do acontecimento longínquo asso­ciado à grande tribulação. Um tanto paralela, apesar de estar numa cate­goria diferente, é a maneira abrangente em que Jesus fala sobre a ressur­reição espiritual e física numa só afirmação. Um exemplo é João 5.21.(Everett F. Harrison, The Christian doctrine of resurrection, p. 46)

            O Senhor, nessa passagem, ensina a universalidade do plano de ressur­reição e as diferenças dentro desse plano, mas não fala sobre a hora em que as várias ressurreições ocorrerão. Fazer a passagem ensinar isso é perverter sua intenção original.
            Fica claro em Apocalipse 20 que as duas partes do plano de ressur­reição estão separadas por um intervalo de mil anos. João escreve:
            Vi também tronos, e nestes sentaram-se aqueles aos quais foi dada autori­dade de julgar. Vi ainda as almas dos decapitados por causa do testemu­nho de Jesus, bem como por causa da palavra de Deus, tantos quantos não adoraram a besta, nem tampouco a sua imagem, e não receberam a marca na fronte e na mão; e viveram e reinaram com Cristo durante mil anos [...] Esta é a primeira ressurreição. Bem-aventurado e santo é aquele que tem parte na primeira ressurreição; sobre esses a segunda morte não tem autoridade; pelo contrário, serão sacerdotes de Deus e de Cristo e reinarão com ele os mil anos (Ap 20.4-6).

            Observamos que a primeira parte do versículo 5, "Os restantes dos mortos não reviveram até que se completassem os mil anos", é uma afirmação separada que explica o que acontece aos que ficam para trás no reino da morte, quando a primeira ressurreição é concluída na se­gunda vinda de Cristo. Essa passagem ensina que haverá mil anos en­tre a primeira ressurreição, ou a ressurreição para a vida, e a ressurrei­ção do restante dos mortos, que, de acordo com Apocalipse 20.11-13, é a ressurreição para a condenação. A única maneira de eliminar o ensinamento inequívoco dessa passagem é espiritualizá-la para que ela não fale sobre a ressurreição física, mas sobre a bênção das almas que estão na presença do Senhor. Sobre essa interpretação, Alford escreve:
            ... não posso consentir em distorcer as palavras em relação ao seu sentido simples e ao seu lugar cronológico na profecia, por conta de qualquer consideração de dificuldade ou de qualquer risco de abusos que a doutri­na do milênio possa trazer consigo.
            Os que viveram ao lado dos apóstolos e de toda a igreja durante trezentos anos interpretaram-na no sentido sim­ples e literal; e é uma visão estranha nos dias de hoje ver expositores, que estão entre os primeiros em reverência à antigüidade, descartando com desdém o exemplo mais claro de unanimidade que a antigüidade primi­tiva apresenta. Com relação ao texto em si, nenhum tratamento legítimo extrairá dele o que é conhecido como a interpretação espiritual, agora tão popular.
            Se, numa passagem em que duas ressurreições são mencionadas, em que certas almas viveram no começo, e o restante dos mortos viveu no fim de um período específico após o primeiro, se em tal passagem, a primeira ressurreição pode ser interpretada como a ressurreição espiritual com Cris­to, enquanto a segunda significa ressurreição literal do túmulo, então há um fim de todo sentido na língua, e as Escrituras são eliminadas como testemunho definitivo de qualquer coisa.
            Se a primeira ressurreição é es­piritual, então a segunda também é, o que suponho que ninguém terá a coragem de defender. Mas, se a segunda é literal, então a primeira tam­bém é, o que, juntamente com a igreja primitiva e muitos dos melhores expositores modernos, defendo e recebo como artigo de fé e esperança.(Henry Alford, Greek Testament, w, p. 730-1)

            Devemos concluir que, apesar de não haver revelação clara no Antigo Testamento sobre a relação cronológica entre as duas partes do plano de ressurreição, o Novo Testamento deixa claro que a ressurreição para a vida e a ressurreição para a condenação estão separadas por um perío­do de mil anos.

III. O Plano da Ressurreição


            O apóstolo Paulo nos dá um esquema dos acontecimentos no pla­no da ressurreição em ICoríntios 15.
            Porque, assim como, em Adão, todos morrem, assim também todos serão vivificados em Cristo. Cada um, porém, por sua própria ordem: Cristo, as primícias; depois, os que são de Cristo, na sua vinda. E, então, virá o fim, quando ele entregar o reino ao Deus e Pai, quando houver destruído todo principado, bem como toda potestade e poder (1 Co 15.22-24).

            O fato de que haverá uma divisão no plano de ressurreição depreende-se de "Cada um, porém, por sua própria ordem" (v. 23). A palavra or­dem (tagma), de acordo com Robertson e com Plummer ,"é uma metáfo­ra militar; 'companhia', 'tropa', 'bando' ou 'classe'. Devemos pensar em cada 'corpo' de tropas vindo em sua posição e ordem apropriada...". (Archibald Robertson & Alfred Plummer, First Epistle to the Corinthians, p. 354) As partes da ressurreição são vistas como os batalhões que marcham num desfile de vitória bem organizado. Porém, o conceito militar da palavra não pode ser por demais enfatizado. Harrison diz:
... é duvidoso se a força militar do mundo deve ser frisada a esse respeito, porque a metáfora com que a passagem começa é a de "primícias", e, como vimos, isso exige uma colheita semelhante em natureza às primícias. Essa idéia deve ser vista mais certamente como reguladora do sentido que a força de [...] [tagma]. Sem dúvida tudo o que Paulo pretende trans­mitir pelo uso de [...] [tagma] é a idéia de seqüência.(Harrison, op. cit., p. 192)

            Nessa seqüência da marcha de ressurreição, Cristo é sem dúvida o líder do batalhão, ou as "primícias" da colheita que promete grande abun­dância de frutos semelhantes que frutificarão na hora determinada. Essa fase do plano de ressurreição foi cumprida na ressurreição de Cristo no terceiro dia e marca o começo de todo esse plano de ressurreição.
            Um segundo grupo é introduzido pela palavra "depois". Essa pa­lavra (epeita) significa um espaço de tempo de duração indeterminada. Edwards comenta: "Ele não diz que um acontecimento segue o outro imediatamente, nem diz quão cedo ele se seguirá".(T. C. Edwards, The First Epistle to the Corinthians, p. 414) Há liberdade aqui para abranger um espaço de tempo entre a ressurreição de Cristo e a ressurreição "dos que são de Cristo, na sua vinda".
            Tem havido diferença de opinião quanto a quem é mencionado no segundo grupo. Alguns interpretam o termo os que são de Cristo (hoi tou Christou) como sinônimo daqueles "em Cristo" (en tõ Christo) do versículo 22. Essa seria a expressão técnica que descreve a relação dos santos para com Cristo na presente era. Logo, concluímos que essa é a ressurreição da igreja mencionada em I Tessalonicenses 4.16. Essa teo­ria é apoiada por uma referência à palavra vinda (parousia), geralmente aplicada ao arrebatamento. Paulo estaria afirmando assim que o se­gundo grande grupo na marcha da ressurreição seria formado por aque­las pessoas da presente era que ressurgirão no arrebatamento da igreja.
            Os que defendem tal teoria afirmam que Paulo não está mencionando aqui a ressurreição dos santos da tribulação, nem os santos do Antigo Testamento. No entanto, já que Paulo está descrevendo o grande plano de ressurreição, parece estranho que esses importantes grupos fossem omitidos. É melhor aceitar a teoria alternativa de que a expressão os que são de Cristo é uma referência geral a todos os redimidos, da igreja, do período do Antigo Testamento e do período da tribulação, todos os quais serão vivificados na "vinda" de Cristo. A palavra vinda, então, seria interpretada no seu sentido mais amplo, aplicando-se à segunda vinda e ao seu plano, e não apenas ao arrebatamento. Assim Paulo estaria falando que o segundo grande grupo seria composto por santos de to­das as eras que serão vivificados na Segunda vinda porque pertencem a Cristo.
            Há um debate vigoroso entre os expositores quanto ao significado da expressão "então virá o fim" (v. 24). Alguns acham que a palavra ressurreição deveria ser incluída (então virá o fim da ressurreição), e as­sim Paulo estaria falando sobre o término do plano com a ressurreição dos incrédulos mortos no final dos mil anos. Outros argumentam que os incrédulos não estão incluídos, mas que Paulo ensina que a ressur­reição será seguida pelo fim dessa era (então virá o fim da era), como em Mateus 24.6,14 e em Lucas 21.9. A questão é decidida pela interpreta­ção do relacionamento entre os dois usos de "todos" no versículo 22. Eles são co-extensivos ou não?
            A primeira teoria afirma que os "todos" que morrem em Adão não são os mesmos "todos" vivificados em Cristo. A interpretação dos que defendem essa posição é a de que no versículo, embora todos os que estão em Adão morram, a ressurreição descrita inclui apenas os salvos que estão "em Cristo", e "o fim" deve então referir-se ao fim da era. Harrison resume os argumentos dessa posição quando escreve:
            A interpretação do versículo 22 geralmente usada para apoiar essa cons­trução considera a segunda ocorrência [...] [pantes, todos] co-extensiva à primeira. O "todos" é universal em ambos os casos. É certo nesse ponto que dificuldades começam a cercar a teoria descrita. Como observamos em outra conexão, a palavra [...] [zoopoiethesontai] é um termo muito forte e muito complexo espiritualmente para ser usado com respeito a todos os homens. O termo natural para ressurreição de um tipo totalmente abrangente seria [...] [egeiresthai].
            As palavras "em Cristo" não podem ter nenhum significado inferior ao que têm em qualquer outro lugar. Essa fase fala da conexão soteriológica mais íntima e poderosa com Cristo. Os incrédulos não estão incluídos. Meyer e Godet estão no caminho errado ao supor que [...] [en christo] tem aqui um significado diluído que permite a aplicação a incrédulos. Tal aplicação exigiria [...] [dia christou] em vez de [...] [en christo].
            Uma segunda dificuldade é o fato de que toda a discussão do capítulo tem em vista apenas crentes. Pelo menos, nada é dito clara­mente sobre quaisquer outros. Paulo centraliza a atenção de seus leitores em Cristo como as primícias dos mortos crentes. A palavra [...] [aparche] (primícias) e o verbo [...] [koimao] (dormir) aplicam-se apenas a crentes. Cristo não é as primícias dos outros, já que eles devem necessariamente ser de todo diferentes dEle em sua ressurreição. Então, os mortos incrédulos tam­bém não "dormem". Eles morrem.
            Uma dificuldade se apresenta no uso artificial e inédito de... [telos] que essa construção exige. A palavra significa "fim" no sentido absoluto de término ou conclusão. Às vezes é usada no sentido de propósito ou alvo. Mas esse uso como o equivalente de um adje­tivo (ressurreição final) não tem nenhum exemplo. Tal dificuldade pode ser resolvida ao considerarmos sua força normal de substantivo e ao incluir "da ressurreição", caso em que toda oração ficaria "então virá o fim da ressurreição". Mas uma teoria que exige a inclusão de palavras que são cruciais à sua integridade deve permanecer sob certa suspeita. (Harrison, op. cit., p. 191-2)

A mesma teoria é apoiada por Vine, que diz:
            ... como Adão é o cabeça da raça natural, e, em virtude dessa relação com ele, a morte é o destino comum dos homens, então, pelo fato de que Cris­to é o Cabeça da raça espiritual, todos os que possuem relação espiritual com Ele serão vivificados. Não há idéia de universalismo da raça huma­na na comparação da segunda afirmação com a primeira. Que os incré­dulos estejam "em Cristo" é totalmente contrário ao ensinamento das Escrituras [...] logo, apenas os que se tornam novas criaturas e possuem vida espiritual, e portanto estão "em Cristo" na sua experiência nesta vida presente, estão incluídos no "todos" da segunda afirmação, os quais se­rão "vivificados".(W. E. Vine, First Corinthians, p. 210.)

            Logo, de acordo com essa teoria Paulo está vendo dois estágios no pla­no da primeira ressurreição: a ressurreição de Cristo e a ressurreição de todos os que são de Cristo, o que incluiria os santos da igreja, os santos da tribulação e os santos do Antigo Testamento, que são vivificados por ocasião da segunda vinda, ressurreição essa que seria seguida pelo fim da era.
            Há aqueles, no entanto, que interpretam a passagem como se Pau­lo estivesse incluindo o fim do plano de ressurreição no seu ensinamento. Assim, a expressão "em Cristo" seria entendida como ins­trumental, "por Cristo". Robertson e Plummer comentam:
            Talvez Paulo esteja pensando sobre uma terceira [...] [tagma, ordem], aque­les que não são de Cristo, que serão vivificados pouco antes do fim. Mas, durante toda a passagem, os incrédulos e os ímpios ficam de lado, se é que chegam a ser lembrados. (Robertson & Plummer, loc. cit)

Feinberg escreve:
            O contexto fala sobre ressurreição, e a ressurreição final está em vista aqui, de acordo com vários comentadores. Com os últimos, concordamos. O apóstolo demonstrou que há estágios definidos na ressurreição dos mor­tos. Primeiro, Cristo, que é as primícias; segundo, os que são de Cristo na Sua vinda; terceiro, a ressurreição final dos incrédulos.(Charles Feinberg, Premillennialism or amillennialism, p. 233)

Pridham descreve a ordem dessa maneira:
            ... o apóstolo distribuiu o grande trabalho da ressurreição como uma ma­nifestação do poder divino, em três atos definidos e independentes: 1. A ressurreição do Senhor Jesus. 2. A ressurreição dos Seus na Sua vinda. 3. O esvaziamento definitivo de todo túmulo no final da administração do reino do Filho, quando se apresentarão os mortos não incluídos na pri­meira ressurreição, pequenos e grandes, para o julgamento diante de Deus.(Arthur Pridham, Notes and reflections on the First Epistle to the Corinthians, p. 392)

            Visto que a palavra "fim" (telos) no seu emprego básico se refere ao fim de um ato ou estado e se relaciona ao término de um plano, (Joseph Henry Thayer, Greek-English lexicon of the New Testament, p. 619-20) é preferível entender que Paulo inclui a ressurreição final nos grupos que marcham e aqui são retratados.
            Mais uma vez devemos observar que Paulo está prevendo um in­tervalo de tempo entre a ressurreição dos que estão em Cristo e o fim, seja no fim da era, seja no fim do plano de ressurreição. Vine diz:
            ... a palavra traduzida por "então" não é tote, "então" no sentido de "ime­diatamente", mas eita, indicando seqüência no tempo, "então" após um intervalo, e.g., Marcos 4.17,28, e versículos 5 e 7 do capítulo atual. O inter­valo subentendido aqui no versículo 24 é aquele durante o qual o Senhor reinará no Seu reino milenar de justiça e paz. (Vine, op. cit., p. 211.)

IV. A Ressurreição de Israel


            Para esboçar corretamente os acontecimentos do plano de ressur­reição, é necessário definir a hora da ressurreição de Israel para que possamos observar a seqüência correta. É comum entre os dispensacionalistas ensinar que a ressurreição de I Tessalonicenses 4.16 inclui os santos do Antigo Testamento tanto quanto os santos da igreja. Desprezando as diferenças essenciais no plano de Deus com relação aos dois grupos, afirma-se que suas ressurreições são simultâneas, com base em vários argumentos:
            1) a redenção de Israel depende da obra de Cristo, assim como a redenção da igreja, e então pode-se afirmar que eles estão "em Cristo" e ressuscitam ao mesmo tempo;
            2) a "voz do arcanjo" em I Tessalonicenses 4 tem significado especial para Israel, como "a trombeta de Deus" tem para a igreja, e assim ambos estão in­cluídos;
            3) os 24 anciãos de Apocalipse incluem santos do Antigo e do Novo Testamento e, portanto, todos devem ter ressurgido;
            4) Daniel 12.2,3 não fala sobre ressurreição literal, mas sobre restauração nacio­nal, logo a passagem não indica a hora da ressurreição de Israel, mas sim a hora de sua restauração. (Cf. William Kelly, Lectures on the book of Daniel, p. 255)

Em resposta, certas observações devem ser feitas.
            1) Apesar de Is­rael ser redimido pelo sangue de Cristo, jamais experimentou o batis­mo do Espírito Santo, que os teria colocado "em Cristo", portanto essa fase só pode descrever os santos da era presente que se relacionam com Cristo dessa maneira.
            2) Quanto à idéia de que a menção de um "arcan­jo" deve necessariamente incluir Israel por causa dos ministérios espe­ciais dos anjos àquela nação (cf. Dn 12.1), deve-se observar que tal afir­mação desconsidera o fato de que no livro de Apocalipse ministérios angelicais são mencionados em relação ao plano de julgamentos que precede a segunda vinda e em relação à vinda em si, não só quando o acontecimento está relacionado a Israel, mas quando está relacionado a outros também.
            3) Com relação ao fato de que a nação de Israel está incluída por causa dos 24 anciãos, foi demonstrado anteriormente que eles representam a igreja apenas e Israel não precisa estar incluído aqui.
            4) Finalmente, Daniel 12.2,3 não pode ser tratado figuradamente sem violar todo o princípio da interpretação literal.

O comentário de Tregelles foi observado anteriormente. West acrescenta:
            A verdadeira tradução de Daniel 12.2,3, em relação ao contexto, é "e (na­quela hora) muitos (do seu povo) dos que dormem no pó da terra ressus­citarão (ou serão separados), uns (que ressuscitam) para a vida eterna, e outros (que não ressuscitam naquela hora) para vergonha e horror eter­no". É assim que traduzem os melhores doutores em hebraico e os melho­res exegetas cristãos; e esse é um dos defeitos da Versão revisada [em in­glês] que [...] permitiu que a impressão errada que a Versão autorizada [em inglês] dá sobre o texto continue. (Nathaniel West, The thousand years in both Testaments, p. 266)

Comentando essa passagem, Gaebelein diz:
            A ressurreição física não é ensinada no segundo versículo desse capítulo; se fosse, a passagem estaria em conflito com a revelação relativa à ressur­reição no Novo Testamento. Não existe uma ressurreição geral, mas ha­verá a primeira ressurreição, da qual apenas os justos participam, e a se­gunda ressurreição, que significa a ressurreição dos mortos incrédulos para seu castigo eterno e consciente [...]
            Repetimos que a mensagem não tem nada que ver com ressurreição física. A ressurreição física é usada, no entanto, como metáfora do reavivamento nacional de Israel naqueles dias.(Amo C. Gaebelein, The prophet Daniel, p. 200)

            Essa interpretação parece basear-se na idéia preconcebida de que a igreja e Israel serão vivificados juntos e também na falsa interpretação de que, literalmente interpretado, Daniel 12.2 precisa falar de uma ressurreição geral e, logo, é necessário espiritualizar a passagem. Devemos obser­var que essa espiritualização surge não da interpretação da passagem, mas de uma tentativa de atenuar certas discrepâncias, que, conforme foi demonstrado, não existem. Parece muito melhor entender essa pas­sagem como um ensinamento da ressurreição física literal.
            Em outra passagem paralela, que trata da ressurreição de Israel, Isaías 26.19, Kelly espiritualiza novamente a ressurreição para fazer com que defenda a restauração. Ele diz:
            Mas no capítulo 26, a alusão à ressurreição é empregada como metáfora, porque o contexto prova que ela não pode referir-se ao fato literal; pois, se o fizesse, negaria que os incrédulos ressuscitarão.(William Kelly, Exposition of Isaiah, p. 265.)

            Entretanto, a questão da ressurreição dos incrédulos não está em vista aqui. Harrison diz:
            Embora possa parecer que o versículo 14 ensine que não há ressurreição para os senhores que exerceram domínio sobre Israel, e portanto não há ressurreição para os injustos, faltam provas de que o versículo se refira a eles. Os dois termos, "mortos" e "sombras" ("falecidos" na Versão Revisa­da) [em inglês] não possuem o artigo definido. Aparentemente tudo o que está incluído aqui é uma observação de que, considerando-se a experiên­cia, a morte continua tendo domínio sobre os que estão debaixo do seu poder. Então no versículo 19 vem uma grande exceção. Parece que não há no contexto nenhuma alusão a uma não-ressurreição dos injustos. (Harrison, op. cit., p. 30)

            Assim, as passagens devem ser interpretadas como referências à res­surreição literal de Israel.
            Nesse sentido é necessário um comentário em relação a Ezequiel 37, a visão do vale dos ossos secos. Alguns acreditam que a menção de "sepulturas" em Ezequiel 37.13,14 poderia demonstrar que está em vista aqui a ressurreição, pois não parece significar "um lugar entre as na­ções", mas sim "um lugar de sepultamento". No entanto, os ossos não são vistos numa sepultura, mas espalhados sobre o vale. Ezequiel deve estar usando aqui a metáfora de sepultamento e ressurreição para ensi­nar a restauração.
            Então, me disse: Filho do homem, estes ossos são toda a casa de Israel. Eis que dizem: Os nossos ossos se secaram, e pereceu a nossa esperança; estamos de todo exterminados. Portanto, profetiza, e dize-lhes: Assim diz o Senhor Deus: Eis que abrirei a vossa sepultura, e vos farei sair dela, ó povo meu, e vos trarei à terra de Israel. Sabereis que eu sou o Senhor, quando eu abrir a vossa sepultura e vos fizer sair dela, ó povo meu. Porei em vós o meu Espírito, e vivereis, e vos estabelecerei na vossa própria terra [...] Assim diz o Senhor Deus: Eis que eu tomarei os filhos de Israel de entre as nações para onde eles foram, e os congregarei de todas as partes, e os levarei para a sua própria terra. Farei deles uma só nação na terra, nos montes de Israel (Ez 37.11-14,21,22).
           
            Na explicação da visão (v. 21,22) Ezequiel mostra claramente que o que está em vista é a restauração. Poderia ser concluído aqui que Ezequiel está falando sobre restauração, e não sobre ressurreição. Gaebelein diz:
            Nessa visão dos ossos secos, a ressurreição física é usada como metáfora da restauração nacional de Israel [...] Quando lemos em Ezequiel a res­peito das sepulturas, devemos considerar o significado literal de sepultu­ras, mas as sepulturas são símbolos da nação sendo enterrada entre os gentios. Se esse ossos secos significam os mortos físicos da nação, como explicar que eles falem: "Os nossos ossos se secaram, e pereceu a nossa esperança?".(Arno C. Gaebelein, The prophet Ezekiel, p. 246.)

            Portanto, deve-se concluir que a ressurreição de Israel não aconte­ce na hora do arrebatamento porque essa ressurreição inclui apenas os que estão "em Cristo" (lTs 4.16) e Israel não ocupa essa posição. Além disso, a conclusão é provada porque a igreja é um mistério, e Deus com­pletará o plano para a igreja antes de concluir Seu plano com Israel. A ressurreição é vista como um acontecimento final, e a ressurreição de Israel não poderia vir até a conclusão do seu plano. Finalmente, a im­possibilidade da espiritualização de Daniel 12.2 e de Isaías 26.19 em restauração exige que a ressurreição da igreja e a ressurreição de Israel aconteçam em ocasiões distintas.
            As referências do Antigo Testamento já citadas mostram que a res­surreição de Israel ocorre na segunda vinda de Cristo. Daniel 12.1,2 afir­ma que a ressurreição acontece "naquele tempo", que deve ser o tempo descrito anteriormente, ou no tempo dos acontecimentos finais da septuagésima semana, quando o fim chega para a besta. "Naquele tem­po" haverá um livramento (v. 1) e uma ressurreição (v. 2). Essa passagem parece mostrar que a ressurreição está associada ao ato de livramento da besta na segunda vinda. Da mesma maneira, Isaías 26.19 mostra que a dádiva de ressurreição prometida não acontece até "que se passe a ira" (v. 20). Essa indignação não é nada mais que o período da tribulação, e a ressurreição de Israel acontece no final desse período. Parece ser um erro afirmar que tanto a igreja quanto Israel serão vivificados no arrebata­mento. As Escrituras demonstram que Israel será vivificado no final da tribulação, enquanto a igreja será vivificada antes disso.
            A ordem dos acontecimentos no plano de ressurreição será:
            1) a ressurreição de Cristo como o princípio do plano de ressurreição (1 Co 15.23);
            2) a ressurreição dos santos da era cristã no arrebatamento (lTs 4.16);
            3) a ressurreição dos santos do período da tribulação (Ap 20.3-5), juntamente com
            4) a ressurreição dos santos do Antigo Testamento (Dn 12.2; Is 26.19) na segunda vinda de Cristo à terra, e, finalmente,
            5) a ressurreição final dos mortos não-salvos (Ap 20.5,11-14) no fim da era milenar.
            Os quatro primeiros estágios seriam todos incluídos na pri­meira ressurreição ou ressurreição para a vida, visto que todos recebem vida eterna, e o último seria a segunda ressurreição, ou a ressurreição para a condenação, visto que todos recebem julgamento eterno naque­la ocasião.


Minhas Postagens

... A BÍBLIA É O FENÔMENO EXPLICÁVEL APENAS DE UM MODO – ELA É A PALAVRA DE DEUS...

... A BÍBLIA É O FENÔMENO EXPLICÁVEL APENAS DE UM MODO – ELA É A PALAVRA DE DEUS...
O fato de que Deus nos deu a Bíblia é evidencia e exemplo de seu amor por nos, nos ensinando a manter um relacionamento correto com Deus, mas como podemos ter evidencias de que a Bíblia é mesmo a palavra infalível de Deus e não simplesmente um bom livro? O que é único na Bíblia que a separa dos demais livros escritos até hoje? A Bíblia é a verdadeira Palavra de Deus, divinamente inspirada, e totalmente suficiente para todas as questões de fé e prática. Não pode haver duvidas sobre a veracidade bíblica. Ela não é um livro que um homem escreveria se pudesse, ou que poderia escrever se quisesse.

QUE TEMPO CURTO!

QUE  TEMPO CURTO!
Se for ensinar, haja dedicação ao ensino (Rm 12.7b). Quase todos nós já passamos pela experiência de ver um professor da Escola Dominical ser surpreendido pelo soar do sinal anunciando o término da aula. Muitos são os professores e alunos que vivem se queixando do pouco tempo reservado para o estudo em classe. Alguns professores chegam dizer, frustrados, que a aula terminou exatamente quando começava a tratar da melhor parte do seu conteúdo. A questão não é falta de tempo e sim de planejamento. Quando não há planejamento da aula, não importa o tempo a ela reservado, tudo sairá atabalhoadamente dando a impressão de que está faltando algo. Quando existe planejamento, mesmo que o tempo seja curto, haverá produtividade e satisfação na aula dada. O problema não é o tempo, reafirmo, mas o planejamento. O planejamento de uma aula para a Escola Dominical deve levar em consideração vários fatores.

Alguém precisa fazer algo!

Alguém precisa fazer algo!
JANELA 10/40 é uma faixa da terra que se estende do Oeste da África, passa pelo Oriente Médio e vai até a Ásia. A partir da linha do equador, subindo forma um retângulo entre os graus 10 e 40. A esse retângulo denomina-se JANELA 10/40.Calcula-se que até hoje menos da metade da população mundial com as suas etnias e línguas tenham sido confrontadas com o evangelho. A outra parte, com sua maioria absoluta na Janela 10/40, representa uma grande multidão de cerca de 3,2 bilhões de pessoas que ainda são objetos dos empreendimentos missionários do povo de Deus.

DICAS PARA UMA LEITURA PROVEITOSA.

DICAS PARA UMA LEITURA PROVEITOSA.
. Então, aí vai dez dicas para ler sem esquecer, a primeira vista, muitas podem parecer óbvias. Mas não as subestime. Não é sempre que a gente enxerga o óbvio. 1- Não leia cansado nem ansioso. Se for o caso, faça exercícios de respiração antes de começar a leitura. O estresse é o inimigo número um da concentração e, em consequência, da memorização. 2- Tenha vontade de aprender o que será lido. 3- Se não tiver vontade de antemão, procure criar interesse pelo assunto. A curiosidade é a mola da humanidade. 4- Sublinhe as palavras mais importantes e as frases que expressem melhor a idéia central. 5- Analise as informações e crie relação entre elas, seja nas linhas de cima ou com tudo o que você aprendeu na vida, trazendo-as para o seu mundo. A associação de idéias é fundamental. 6- Leve sempre em conta coisas como: 1- Grau de dificuldade do texto (ler um gibi não é o mesmo que ler sobre filosofia). 2- Objetivo (Só querer agradar alguém, e mais nada, não é o melhor caminho para gravar uma informação. 3- Necessidade (querer ler é bem diferente de depender disso). 7- Faça perguntas ao texto e busque respostas nele. 8- Repita sempre, desde ler de novo até contar para laguém o que você leu. 9- Faça uma síntese mental. Organizar bem as idéias já é meio caminho andado. 10- A memória prefere imagens a palavras ou sons. Por isso, tente criar uma história com aquilo que está lendo, com cenas coloridas e movimentadas. Sammy Pulver comentou muito bem a sensação de quem descobriu e está experimentando os prazeres de uma boa leitura: Na vida nos ensinam a amar, a sorrir, a andar, a lutar, mas quando abrimos um livro, descobrimos que também podemos voar.