A doutrina
declarada.
As Escrituras ensinam que Deus é
Um, e que além dele não existe outro Deus. Poderia surgir a pergunta:
"Como podia Deus ter comunhão com alguém antes que existissem as
criaturas finitas?" A resposta é que a Unidade Divina é uma Unidade
composta, e que nesta unidade há realmente três Pessoas distintas, cada uma das
quais é a Divindade, e que, no entanto, cada uma está sumamente consciente das
outras duas. Assim, vemos que havia comunhão antes que fossem criadas quaisquer
criaturas finitas. Portanto, Deus nunca esteve só. Não é o caso de haver três
Deuses, todos três independentes e de existência própria. Os três cooperam
unidos e num mesmo propósito, de maneira que no pleno sentido da palavra, são
"um".
O Pai cria, o Filho redime, e o Espírito Santo santifica; e, no entanto, em cada uma dessas operações divinas os
Três estão presentes.
A Trindade é uma comunhão
eterna, mas a obra da redenção do homem evocou a sua manifestação
histórica. O Filho entrou no mundo duma maneira nova ao tomar sobre si a
natureza humana e lhe foi dado um novo nome, Jesus. O Espírito Santo
entrou no mundo duma maneira nova, isto é, como o Espírito de Cristo
incorporado na igreja. Mas ao mesmo tempo, os três cooperaram. O Pai
testificou do Filho (Mat. 3:17); e o Filho testificou do Pai (João 5:19).
O Filho testificou do Espírito (João 14:26), e mais tarde o Espírito
testificou do Filho (João 15:26). Será tudo isso difícil de compreender?
Como poderia ser de outra maneira visto que estamos tentando explicar a
vida íntima do Deus Todo-poderoso! A doutrina da Trindade é claramente uma
doutrina revelada, e não doutrina concebida pela razão humana. De que maneira
poderíamos aprender acerca da natureza íntima da Divindade a não ser pela
revelação? (1 Cor. 2:16.) É verdade que a palavra "Trindade" não aparece no Novo Testamento; é
uma expressão teológica, que surgiu no segundo século para
descrever a Divindade. Mas o planeta Júpiter existiu antes de receber
ele este nome; e a doutrina da Trindade encontrava-se na Bíblia antes que
fosse tecnicamente chamada a Trindade.
O que diz a historia? A doutrina como historia
Trezentos bispos da Igreja
Ocidental (alexandrina) e da Igreja Oriental (antioquiana) reuniram-se em Nicéia, no grande concílio ecumênico, que procuraria definir com precisão teológica a
doutrina da Trindade. O propósito do concílio era tríplice: (1) esclarecer os termos usados para articular a
doutrina trinitariana;
(2)
desmascarar e condenar os erros teológicos que estavam presentes em vários
seguimentos da Igreja; e
(3)
elaborar um documento que estivesse em harmonia com os princípios bíblicos e as
convicções compartilhadas pela Igreja.
O bispo Alexandre estava pronto para a luta contra
Ário. Os arianos estavam confiantes de que seriam vitoriosos. Eusébio de
Nicomédia preparou um documento, no qual continha o ponto de vista defendido
pelos arianos, que foi, confiantemente, apresentado ainda no início do
concílio. Por ter negado a divindade de Cristo, provocou a indignação da
maioria dos presentes que, com firmeza, rejeitou o documento. Em seguida,
Eusébio de Cesaréia (que não era ariano, embora fosse representante da Igreja
Oriental) elaborou durante o debate um credo
que se tomaria o modelo para o Nicéia.
O bispo Alexandre (e os
alexandrinos em geral) ficou muito preocupado com as opiniões de Ário, pois elas poderiam afetar a
salvação pessoal, caso Cristo não fosse plenamente Deus no mesmo sentido que o
Pai o é. Para levar o homem à plena reconciliação com Deus, argumentava Alexandre,
Cristo forçosamente tem de ser Deus.
O Bispo Alexandre reconhecia a
linguagem da subordinação no Novo Testamento, especialmente as referências a
Jesus como "Unigénito" do Pai. Indicava que o termo
"gerado" deve ser entendido do ponto de vista judaico, pois os que
empregavam o termo na Bíblia eram hebreus. O uso hebraico do termo visa
ressaltar a preeminência de Cristo. (Paulo fala nestes
termos, empregando a palavra "primogênito" não com referência à
origem de Cristo, mas aos efeitos salvíficos da sua obra de redenção (ver Cl
1,15,18.)
Alexandre
respondeu a
Ário, argumentando que a condição de o Filho ser o Unigénito é antecedida nas
Escrituras, conforme mostra João 1.14 (o Filho é o Unigénito da parte do Pai), que
indica que Ele compartilha da mesma natureza eterna de Deus (assim se harmoniza
com a "geração eterna" do Filho, segundo Orígenes) .58 Aos
ouvidos de
Ário, que não se retratou, isso soava como um
reconhecimento de que Cristo fora criado. Estava se esforçando desesperadamente por livrar a teologia das
implicações modalísticas que, segundo as palavras posteriormente atribuídas ao
seu opositor principal,
Atanásio, incorriam no perigo de "confundir as Pessoas
entre si". Era, portanto, crucial fazer a distinção entre Cristo e o Pai.
O
bispo Alexandre prosseguiu, declarando que Cristo é "gerado" pelo
Pai, mas não no sentido de emanação ou criação. Teologicamente, o grande desafio da
Igreja Ocidental era a explicação do conceito de homoousia sem cair na heresia
modalística.
Atanásio geralmente recebe o crédito de ter sido o grande
defensor da fé no Concílio
de Nicéia. A parte maior da obra de Atanásio,
porém, foi consumada depois desse grande concílio ecumênico.
Atanásio era inflexível, e embora
deposto pelo Imperador em três ocasiões durante sua carreira eclesiástica,
lutava com valentia em favor do conceito de Cristo ser da mesma essência (homoousios) que o Pai, e não meramente semelhante
ao Pai quanto à sua essência (homoiousios). Durante o seu turno como bispo e defensor da
ortodoxia (conforme revelou ser), era praticamente "Atanásio contra o
mundo".
A escola alexandrina acabou
triunfando sobre os arianos, e Ario voltou a ser condenado e excomungado. Na
fórmula confessionária da doutrina da Trindade em Nicéia, Jesus Cristo é o
"Filho Unigénito de Deus; gerado de seu Pai antes da fundação do mundo,
Deus de Deus, Luz de Luz, Verdadeiro Deus de Verdadeiro Deus; gerado, não
feito; consubstancial com o Pai".
Posteriormente, a Igreja viria a
empregar o termo "proceder" em lugar de "geração" ou
"gerado", com o propósito de expressar a subordinação salvífica do
Filho ao Pai. O Filho procede do Pai. Um tipo de primazia ainda é atribuída ao
Pai com relação ao Filho, mas essa primazia não é cronológica; o Filho sempre
existiu como o Verbo. Mesmo assim, o Filho foi "gerado" pelo Pai ou
"procedeu" do Pai, e não o Pai do Filho.
Esse "proceder" do
Filho em relação ao Pai (já no século VIII, chamada "filiação") é
entendido teologicamente como um ato necessário da vontade do Pai, de modo que
fique impossível existir o conceito do Filho não provindo do Pai. Daí, a
"procedência" do Filho estar eternamente no presente, um ato que
perdura, nunca terminando. O Filho, portanto, é imutável (não sujeito à
mudança, Hb 13.8), assim como o Pai é imutável (Ml 3.6). A filiação do Filho, certamente, não é no sentido
de ter sido gerada outra pessoa com a sua divina essência, pois o Pai e o Filho
são igualmente Deidade e, portanto, da "mesma" natureza indivisível.
O Pai e o Filho (com o Espírito) existem juntos em subsistência pessoal (o
Filho e o Espírito são pessoalmente distintos do Pai na sua existência eterna).
Embora a exposição das
complexidades linguísticas do Credo de Nicéia pareça frustrante para nós
hoje, levando-se em conta a distância de 1.600 anos, é importante considerarmos a necessidade
crucial de se manter a fórmula paradoxal do Credo de Atanásio: "Um só
Deus na Trindade, e a Trindade na Unidade". A exatidão teológica é crítica, pois os termos ousia, hupostasis, substantia e subsistência nos oferecem um entendimento
conceptual do que é a ortodoxia trinitariana, como no caso do Credo de
Atanásio: "O Pai é Deus, o Filho é Deus, e o Espírito Santo é Deus. E,
porém, não são três deuses, mas um só Deus".
Entre 361-81, a ortodoxia trinitariana passou por mais
refinamentos, mormente no tocante ao terceiro membro da Trindade, o Espírito
Santo. Em 381, em Constantinopla, os bispos
foram convocados pelo Imperador Teodócio, e as declarações da ortodoxia de
Nicéia foram reafirmadas. Além disso, houve menção explícita do Espírito Santo
em termos de deidade, como o "Senhor e Doador da vida, procedente do
Pai e do Filho; o qual, com o Pai e o Filho juntamente é adorado e glorificado;
o qual falou pelos profetas".63
O título "Senhor" (gr. kurios), empregado nas Escrituras em alguns textos para
atribuir e explicitar a divindade, é destinado aqui (no Credo de
Nicéia-Constantinopla) ao Espírito Santo. Logo, aquEle que procede do Pai e do
Filho (Jo 15.26) subsiste pessoalmente desde a
eternidade dentro da Deidade, sem divisão ou mudança quanto à sua natureza (Ele
é essencialmente homoousios com o Pai e o Filho).
As propriedades pessoais (as
operações interiores de cada Pessoa dentro da Deidade) atribuídas a cada um dos
membros da Trindade são assim entendidas: o Pai é ingênito; o Filho é gerado;
e o Espírito Santo procede dEles. A insistência nessas propriedades pessoais
não é tentar explicar a Trindade, mas fazer a distinção entre as fórmulas
ortodoxas trinitarianas e as fórmulas heréticas modalísticas.
As distinções entre os membros da
Deidade não se referem à sua essência ou substância, mas ao relacionamento.
Noutras palavras: a ordem de existência na Trindade, no tocante ao ser
essencial de Deus, está espelhada na Trindade salvífica. "São, portanto,
três, não na posição, mas no grau; não na substância, mas na forma; não no
poder, mas na sua manifestação".
O processo contínuo da pesquisa da natureza do Deus
vivo cede lugar, a essa altura, à adoração. Juntamente com os apóstolos, os
pais da igreja, os mártires e os maiores teólogos no decurso da história da
Igreja, temos de reconhecer que "toda a boa
teologia termina com uma
doxologia", (cf. Rm 11.33-36).
A doutrina definida.
Bem podemos compreender porque a
doutrina da Trindade era às vezes mal entendida e mal explicada. Era muito
difícil achar termos humanos que pudessem expressar a unidade da Divindade e ao
mesmo tempo, a realidade e a distinção das Pessoas. Ao acentuar a
realidade da Divindade de Jesus, e da personalidade do Espírito Santo,
alguns escritores corriam o perigo de cair no triteísmo, ou a crença em
três deuses. Outros escritores, acentuando a unidade de Deus, corriam
perigo de esquecer-se da distinção entre as Pessoas. Este último erro é
comumente conhecido como sabelianismo, doutrina do bispo Sabélio que
ensinou que Pai, Filho, e Espírito Santo são simplesmente três aspectos ou
manifestações de Deus. Essa doutrina do sabelianismo é claramente antibíblica e
carece de aceitação, por causa das distinções bíblicas entre o Pai,
o Filho, e o Espírito. O Pai ama e envia o Filho, o Filho veio do
Pai e voltou para o Pai. O Pai e o Filho enviam o Espírito; o
Espírito intercede junto ao Pai. Se, então, o Pai, o Filho e o
Espírito são apenas um Deus sob diferentes aspectos ou nomes, então o Novo
Testamento é uma confusão (João 17)
Como foi preservada a doutrina
da Trindade de não se deslocar para os extremos, nem para o lado da
Unidade (sabelianismo) nem para o lado da Tri-unidade (triteismo)?
Foi pela formulação de
dogmas, isto é, interpretações que definissem a doutrina e a
"protegessem" contra o erro. O seguinte exemplo de dogma acha-se no
Credo de Atanásio formulado no quinto século:
“Adoramos um Deus em
trindade, e trindade em unidade. Não confundimos as Pessoas, nem
separamos a substância. Pois a pessoa do Pai é uma, a do Filho outra, e a
do Espírito Santo, outra. Mas no Pai, no Filho e no Espírito Santo há
uma divindade, glória igual e majestade co-eterna. Tal qual é o Pai, o
mesmo são o Filho e o Espírito Santo. O Pai é incriado, o Filho incriado,
o Espírito incriado. O Pai é imensurável, o Filho é imensurável, o
Espírito Santo é imensurável. O Pai é eterno, o Filho é eterno, o Espírito
Santo é eterno. E, não obstante, não há três eternos, mas sim um eterno. Da
mesma forma não há três (seres) incriados, nem três imensuráveis, mas
um incriado e um imensurável. Da mesma maneira o Pai é onipotente.
No entanto, não há três seres onipotentes, mas sim um Onipotente. Assim o
Pai é Deus, o Filho é Deus, e o Espírito Santo é Deus. No entanto, não há três
Deuses, mas um Deus. Assim o Pai é Senhor, o Filho é Senhor, e o Espírito Santo
é Senhor. Todavia não há três Senhores, mas um Senhor”.
A declaração acima pode
parecer-nos complicada, por tratar-se de pontos sutis; mas nos dias
primitivos demonstrou ser um meio eficaz de preservar a declaração correta
sobre verdades tão preciosas e vitais para a igreja.
A doutrina provada.
ESSA REVELAÇÃO
ENCONTRA-SE NAS ESCRITURAS.
(a) O Antigo Testamento. O Antigo Testamento não ensina clara e
diretamente sobre a Trindade, e a razão é evidente. Num mundo onde o culto
de muitos deuses era comum, tornava-se necessário acentuar esta verdade em
Israel, a verdade de que Deus é Um, e de que não havia outro além dele. Se no
princípio a doutrina da Trindade fosse ensinada diretamente, poderia ter
sido mal entendida e mal interpretada. Muito embora essa doutrina não fosse
explicitamente mencionada, sua origem pode ser vista no Antigo Testamento.
Sempre que um hebreu pronunciava o nome de Deus (Elohim) ele estava
realmente dizendo "Deuses", pois a palavra é plural, e às vezes
se usa em hebraico acompanhada de adjetivo plural (Jos. 24:18, 19) e com
verbo no plural. (Gên. 35:7.)
Imaginemos um hebreu devoto e
esclarecido ponderando o fato de que Deus é Um, e no entanto é Elohim —
"Deuses". Facilmente podemos imaginar que ele chegasse à
conclusão de que exista pluralidade de pessoas dentro de um Deus. Paulo, o
apóstolo, nunca cessou de crer na unidade de Deus como lhe fora ensinada
desde a sua mocidade (1 Tim. 2:5; 1 Cor. 8:4);
Todos os membros da Trindade são
mencionados no Antigo Testamento:
1) O Pai. (Isa. 63:16; Mal. 2:10.)
2) O Filho de Jeová .
(Sal. 45:6, 7; 2:6, 7, 12; Prov. 30:4.) O Messias é descrito com títulos
divinos. (Jer. 23:5, 6; Isa. 9:6.) Faz-se menção do misterioso Anjo de Jeová
que leva o nome de Deus e tem poder tanto para perdoar como para reter os
pecados. (Êxo. 23:20,21.)
3) O Espírito Santo. (Gên. 1:2;
Isa. 11:2, 3; 48:16; 61:1; 63:10.) Prenúncios da Trindade vêem-se na tríplice
bênção de Num. 6:24-26 e na tríplice doxologia de Isa. 6:3.
(b) O Novo Testamento. Os
cristãos primitivos mantinham como um dos fundamentos da fé o fato da
unidade de Deus. Tanto ao judeu como ao pagão podiam testificar:
"Cremos em um Deus." Mas ao mesmo tempo eles tinham as palavras
claras de Jesus para provar que ele arrogou a si uma posição e uma autoridade
que seriam blasfêmia se não fosse ele Deus. (Rom. 9:5). Várias passagens do
Novo Testamento mencionam as três Pessoas Divinas. (Vide Mat. 3:16, 17;
28:19; João 14:16, 17, 26; 15:26; 2 Cor. 13:14; Gál. 4:6; Efés. 2:18; 2
Tes. 3:5; 1Ped. 1:2; Efés. 1:3, 13; Heb. 9:14.) Uma comparação de textos
tomados de todas as partos das Escrituras mostra o seguinte:
1) Cada uma das três Pessoas
é Criador, embora se declare que há um só Criador. (Jo 33:4 e Isa. 44:24.)
2) Cada uma é chamada Jeová
(Deut. 6:4)
A doutrina ilustrada.
COMO PODEM TRÊS
PESSOAS SER UM DEUS?
é uma pergunta que
deixa muita gente perplexa. Não nos admiramos dessa estranheza,
pois, ao considerar a natureza interna do eterno Deus, estamos
tratando de uma forma de existência muito diferente da nossa.
Mas existe um método pelo qual
as verdades que estão além do alcance da razão ainda podem, até certo
ponto, tomar-se perceptíveis a ela. Referimo-nos ao uso da ilustração ou da
analogia. Porém elas devem ser usadas com cuidado, e não forçadamente.
"Toda comparação
manca", disse um sábio da antiga Grécia. Até as melhores são
imperfeitas e inadequadas. Elas podem ser comparadas a minúsculas
lanternas elétricas que nos ajudam a enxergar algum tênue vislumbre da
razão das verdades imensuráveis, vastas demais para serem perfeitamente
compreendidas.
Obtemos de três fontes as
ilustrações: a natureza; a personalidade humana; e as relações humanas.
(a) A natureza proporciona muitas analogias.
1) A água é uma, mas esta
também é conhecida sob três formas — água, gelo e vapor.
3) O sol é um, mas se manifesta
como luz, calor e fogo.
4) Quando São Patrício
evangelizava os irlandeses, explicou a doutrina da Trindade usando o trevo
como ilustração.
5) é de conhecimento geral que
todo raio de luz realmente se compõe de três raios: primeiro, o actinico,
que é invisível; segundo, o luminoso, que é visível; terceiro, o
calorífero, que produz calor, o qual se sente mas não se vê. Onde há estes três,
ali há luz; onde há luz, temos estes três. João o apóstolo, disse:
"Deus é luz". Deus o Pai é invisível; ele se tomou visível em
seu Filho, e opera no mundo por meio do Espírito, que é invisível, no
entanto, é eficaz.
6) Três velas num
quarto darão uma só luz.
7) O triângulo tem três lados e
três ângulos; tirai-lhe um lado e não é mais triângulo. Onde há
três ângulos há um triângulo.
(b) A personalidade humana.
1) Deus disse: "Façamos o
homem à nossa imagem, conforme à nossa semelhança." O homem é um, e,
no entanto, tripartido, constituído de espírito, alma e corpo.
2) O conhecimento humano
assinala divisões na personalidade. Não temos sido cônscios, às vezes, de
arrazoarmos com nós mesmos e de estarmos ouvindo a conversação? Eu falo
comigo mesmo, e me escuto falando comigo mesmo!
(c) Relação
1) Deus é amor. Era eternamente
Amante. Mas o amor requer um objeto a ser amado; e, sendo eterno, deve ter
tido um objeto de amor eterno, a saber, seu filho. O Amante eterno e
o Amado eterno! O Vínculo eterno e o caudal desse amor é o
Espírito Santo.
2) Nosso governo é um, mas é
constituído de três poderes: legislativo, judiciário e executivo.
Veja uma aparente contradição com
respeito a essa doutrina :
COMO PODE A DECLARAÇÃO DE JESUS, "O PAI É MAIOR DO QUE
EU" (JO 14.28) ESTAR COERENTE COM A DOUTRINA DA TRINDADE?
Em João 14.28, Jesus diz o seguinte: "Se vocês me
amassem, ficariam contentes porque vou para o Pai, pois o Pai é maior do que
eu". A Trindade é definida no Breve Catecismo de Westminster (n.° 6) como
segue: "Há três pessoas na Trindade: o Pai, o Filho e o Espírito Santo;
esses três são o único Deus, e cada um o mesmo em substância, igual em poder e
glória". Como, pois, pode o Filho afirmar que o Pai é maior (meizon)
do que ele?
Jesus está falando aqui, não de sua natureza divina, mas da
humana, como Filho do homem. Cristo veio para sofrer e morrer, não como Deus,
que não pode padecer, mas como o segundo Adão, nascido de Maria. Só como ser
humano poderia Jesus servir como o Messias, ou Cristo (o Ungido). A menos que
tivesse uma natureza humana verdadeira, genuína, jamais poderia ter
representado os descendentes de Adão e levar sobre si os nossos pecados na
cruz. Por isso, como Filho do homem, é certo que ele era inferior a Deus, o
Pai. Isaías 52.13-53 esclarece a questão: Jesus só poderia ser nosso Salvador
ao tornar-se o Servo de Iavé que, por definição, jamais pode ser tão grande
como seu senhor. Daí decorre que Jesus só entraria na presença do Pai, que é
maior em dignidade e posição do que o Filho do homem, como o Redentor que
venceu a morte.
Todavia, como Deus, o Filho, à parte a encarnação, as Escrituras
nunca sugerem a existência de algum contraste em glória, entre o Pai e o Filho.
As seguintes passagens deixam esse ponto claríssimo: João 1.1, 18; 8.58; 10.30;
14.9; 17.5; Romanos 9.5 ("Cristo [...] Deus acima de todos, bendito para
sempre"); Colossenses 2.2; Tito 2.13; Hebreus 1.8; 1 João 5.20; cf. também
Isaías 9.6 (afirma que Emanuel, nascido da virgem também é Deus forte — ’el
gibbôr).
Quanto a 1 João 5.7, que diz: "Há três que dão
testemunho [no céu: o Pai, a Palavra, e o Espírito Santo; e estes três são
unânimes". A única parte desse versículo que aparece em algum manuscrito
grego, anterior ao século xv, é a primeira cláusula apenas: "Há três que
dão testemunho", e em seguida vem o versículo: "o Espírito, a água e
o sangue, e os três são unânimes" (lit., "são só um"). O resto
do versículo aparece em manuscritos em latim antigo, datados do século v, não em grego, senão em 635 d.C, como
nota marginal. Portanto, parece-nos melhor omitir esse versículo da lista de
passagens que comprovam a Trindade divina, ainda que aparente conter excelente
teologia.
Conclusão
A doutrina da
Trindade é o caráter distintivo da revelação que Deus fez de si mesmo nas
Sagradas Escrituras. Fiquemos, pois, firmes em nossa confissão de um só Deus,
"eternamente existente em si mesmo... como Pai, Filho e Espírito
Santo".
Santo! Santo! Santo!
Deus Onipotente!
Tuas obras louvam teu nome com fervor;
Santo! Santo! Santo!
Justo e compassivo! És
Deus triúno, excelso
Criador!